segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

ARISTÓTELES , MAQUIAVEL : PENSAMENTOS:






Para Aristóteles a corrupção é uma possibilidade da escolha e acção do homem, mas não uma determinação da sua natureza, o homem como animal político traz em si como uma lei natural que o orienta à procura do bem, que na vida social se manifesta numa busca de uma vivência voltada para o bem comum. Ao contrário do que pensa Nicolau Maquiavel, o homem traz em sua natureza um condicionamento para a corrupção e que em algum momento da vida se mostrará, e principalmente no campo da política, por ser o lugar onde ele mais se depara com possibilidades de satisfazer seu maior interesse, para o qual não mede esforço para alcançá-lo, que é a conquista e manutenção no poder.

“Se assim é, esforcemo-nos por determinar, ainda que em linhas gerais apenas, o que seja ele e de qual das ciências ou faculdade constitui o objecto. Ninguém duvidará de que seu estudo pertença à arte mais prestigiosa e que mais verdadeiramente se pode chamar arte mestra. Ora, a política mostra ser dessa natureza (…). Ora, como a política utiliza as demais ciências e, por outro lado, legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que essa finalidade será o bem humano.” Aristóteles, Ética a Nicómaco, Livro I, pp. 49-50.

“Como demostram todos aqueles que discorrem sobre a vida civil e todos os exemplos de que estão cheias todas as histórias, quem estabelece uma república e ordena suas leis precisa pressupor que todos os homens são maus (…) e que usarão a malignidade de ânimo sempre que para tanto tiverem ocasião; e quando alguma maldade se oculta por algum tempo, assim procede por alguma razão oculta que não se conhece porque não se teve experiência do contrário; mas essa razão é posta a descoberto pelo tempo.” Nicolau Maquiavel, Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, Livro I, cap. 3, pp. 19-20.

Podemos então perguntar, baseando-nos no pensamento de Maquiavel: O homem teria então em si, uma natureza já condicionada à corrupção, que no fim de suas acções, ela se revelaria? Pois, no mundo de interesses pessoais como orientador de tais acções, o que importa é a conquista, não importa como alcançá-la.

A corrupção seria uma face velada de nossa condição e nossa capacidade de acção, que a qualquer momento pode ser revelada.

Diante da actual realidade do quadro político que vivemos, seria uma utopia afirmar o contrário.

A palavra, que para Aristóteles, era vista como dom da comunicação e que assim constituía o laço da vida social tendo por finalidade a capacidade de compreender o justo e o injusto, hoje se tornou maculada no ambiente pútrido em que se desenvolve a política. E não exerce o poder de um discurso visando o bem comum, mas por trás oculta a intenção sorrateira de quem visa unicamente seu bem pessoal, usando todos os artifícios para conquistá-los.

“Perdemos a dignidade, temos dificuldade de encarar a nós mesmos no espelho ou a comunidade internacional num cenário de corrupção sistémica.” diz Sérgio Moro sobre a corrupção.

A corrupção sistémica é fruto da corrupção do homem. Assim como ele tem em suas mãos o poder de construir e mudar o mundo numa visão de progresso e desenvolvimento, ele tem também como regredir em sua historicidade, e isso dá-se basicamente quando o bem individual é procurado de forme inescrupulosa, ferindo toda a pluralidade e igualdade, que devem ser sempre o fim de toda a acção política.

"Vamos para um outro universo. É lá sem dúvida que tudo está bem, pois cumpre confessar que em nosso mundo não faltava o que chorar quanto ao lado físico e moral das coisas." Voltaire, Cândido ou o Optimismo, capítulo X.

Tal como Voltaire, atrevo-me a dizer que no nosso país não falta o que chorar quanto ao lado físico e moral das coisas, principalmente da política. Há ainda outras coincidências entre essa obra de Voltaire e o ambiente político e o descompasso social existentes.

A consciência colectiva, definida por Émile Durkheim como o "conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade que forma um sistema determinado com vida própria", foi totalmente eivada pelo nefasto absolutismo português, fomentando, assim, um círculo vicioso de causas e efeitos: os políticos sabem que a sociedade é frágil e faminta, então lhe atira as migalhas, como milho aos pombos, em troca de votos; e a sociedade se torna refém desses mesmos políticos.



José António Bragança

1 comentário:

andrade da silva disse...

Porém os políticos portugueses bebem palavra a palavra,ideia a ideia o que Maquiavel expõe de defende.
abraço
asilva