domingo, 30 de julho de 2017

RECLAMAÇÃO POR FALTA DE UMA RESPOSTA -SOS- FUNDAMENTAL AO POVO DE PEDROGÃO






Camaradas e amigos

Sobre esta missão cumpri o meu dever. Enviei uma reclamação ao Provedor de Justiça

Talvez outrem mais competente, com melhor verbo etc etc o devesse fazer ou não. Entendi ser meu dever de cidadão -militar e antigo psicólogo, recebi o encorajamento sentido e profundo dos nossos comandantes Serafim Pinheiro e António Moura, as palavras fortes dos nossos camaradas Lameirinhas , Carvalho e Vítor Pássaro, o nosso camarada Heitor sugeriu a alguns membros da AOFA que pensassem no assunto.... e, mesmo, ontem de autarcas e outros cidadãos... e avancei...

Missão cumprida e se algo foi, é ,ou está derrotado, de certeza , que não são os que amam o seu povo e servem a sua Pátria,.

Da minha parte o que mais sinto nisto tudo é um grande cansaço, mas soldado é soldado, e a PÁTRIA RECLAMA melhor e mais cuidada atenção à coisa pública, não pelas demissões das funções militares, mas pelo vero combate do militar que nos anos de 60 ensinavam nas Academias Militares , e foi por essa formação que estive no 25 de Abril 74. O que vi e vivi em Angola foi algo diverso do que apreendi na AM, e, assim, logo em Novembro 72 dizia BASTA!, de que é testemunha o aerograma que escrevi para o nosso e meu camarada de Curso Custódio Pereira.

Boas férias e porque é Agosto de 1 a 13 de Agosto estarei longe do computador
Abraços

joao
PS:


Aerograma de Angola 13 Novembro72

AEROGRAMA DE ANGOLA

BREVE INTRODUÇÃO

“ Perante tanto ruído, eu, em 1972, Alferes de Artilharia, sem ser génio militar, perante a desorganização da guerra, a falta total de portuguesismo das populações, a desmotivação dos militares, a incompetência de alguns comandantes, a falta de meios: armamento e transportes e a ausência adequada de formação dos militares, nomeadamente dos oficiais, pronunciei-me sobre a derrota militar e política da guerra colonial.

Dou conhecimento desta carta, já que muitos falam do hoje para o ontem, pretendo falar de antanho para hoje, talvez seja estúpido, mas segundo a psicologia não há memórias puras nem fidedignas sobre o passado, são sempre construções com um misto de real, ficção, mais o que se foi acrescentando por ouvir dizer e até sonhar. Contrariamente, os documentos produzidos nesse passado retratam o exacto pensamento daqueles momentos. Será que os que tanto falam sobre o passado não escreveram nada na altura, ou será que alguns cantavam Hosanas a esse passado e agora querem escondê-lo, ou pior branqueá-lo?

NOTA: algumas palavras foram suprimidas, porque apesar de serem a linguagem mais precisa e honesta( continuo a pensar que o são) poderiam ferir sensibilidades, e para não usar a bolinha vermelha, lá vão os pontinho, percebe-se muito bem o porquê do português vernáculo, claro…

Damba 13 Novembro 72

Caro Pereira ( hoje, coronel de artilharia Custódio Pereira)

Recebi a tua carta e mais uma vez apercebi-me que todos nós andamos a sentir o mesmo. Andamos a sofrer do grande mal que é a frustração, aliás, os meus sentimentos, ideias e pensamentos acerca de toda esta história estão bem patentes na carta que há dias te escrevi, e, que, por esta altura já devias ter recebido.

Quanto aos golpes de toda esta malta já nada sinto, pois que numa guerra destas, sem história e sem futuro, ou MELHOR SEM OUTRO FUTURO que não seja o FRACASSO ABSOLUTO, parvos são aqueles que cumprem o seu dever e arriscam a vida. Não te metas pois em becos sem saída, manda esta …. toda para …..,pois toda esta gente tem pleno conhecimento de quanto se está a passar, e cada vez mais nos …….

Caro Pereira perante tão evidentes factos começo a sentir vergonha de pertencer a esta comunidade que PASSIVAMENTE TUDO ACEITA, só falta que ….. em cima de nós no real e efectivo sentido, pois tudo o resto já fazem sem rodeios.

A propósito da minha promoção ( a tenente) chegou há dias uma nota a referir que tinham enviado o meu processo para a 1º Repartição, claro que fiquei surpreendido, porque vocês fizeram mil e tantos exames médicos, e eu não fiz nenhum, talvez seja o principio do equilíbrio natural das coisas, segundo parece esta ….. até tem algumas leis cientificas que a vai regulando.

Quanto ao fim da nossa comissão….. é de todo conveniente que o teu batalhão procure saber o mesmo, pois que cada um de nós pode ser, que dentro de todo este sistema, pertença a guerras totalmente diferentes.

NOVAMENTE TENHO EM MENTE A EFECTIVAÇÃO DE UMA REUNIÃO COM TODA A MALTA DOS POSTOS SUBALTERNOS, A FIM DE EXPORMOS A QUEM DE DIREITO A NOSSA MISERÁVEL SITUAÇÃO, E EXIGIRMOS A TOMADA DE MEDIDAS POSITIVAS E IMEDIATAS.

Veremos o que se conseguirá, mas isto não passará de mais um sonho de uma cabeça louca.

Não sei, mas sinto-me à beira do colapso, quando penso em toda esta …., até parece que dou em louco, pois nunca me senti tão inútil na vida, como aqui e naquele período em que em Vendas Novas, feito burro e animal sem personalidade andei com o parvalhão do A. a pintar paus, … que o ….., mas foi ele o 1º gajo que deu as dimensões do nosso papel – o de construtores de …… – é de dizer como o outro que …. de hipótese.

Do
A. da Silva

PS:
Sobre os tristes e lamentáveis episódios, acima referidos que tiveram lugar no fim do nosso tirocínio, com flagrante desrespeito por compromissos assumidos, esclareço que, em 1971, o curso de Artilharia, de que era o seu chefe, recusou-se colectivamente a fazer as provas  curriculares do pentatlo no final do tirocínio do curso, apesar de todas as ameaças de que nos aconteceria isto e aquilo, segundo, o capitão director do curso que acabou por chegar muito, muito, longe,

Nos idos do 25 de Abril defendi este capitão, quando na unidade o queriam sanear. Defendi-o com base em duas premissas: era estimado pelos militares que comandava, era tecnicamente competente e dedicado, e estes dois factos são para mim determinantes para o bom juízo de um comandante. Nunca os questionei, como aos militares que comandei, como aliás, com toda as pessoas com quem me relaciono ou  com quem me relacionei quanto ao seu partido, ideologia ou religião, por mais intima que tenha sido essa relação, como nunca prejudiquei ou beneficiei alguém por qualquer daquelas circunstâncias ou outras.



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