quarta-feira, 23 de novembro de 2016

DA GUERRA, DA INSTRUÇÃO MILITAR, DA MORTE E DA PAZ.

                                                             BÓSNIA 1996

IMPERATIVO CATEGÓRICO CIVILIZACIONAL DE VIDA OU MORTE CIDADÃ.

A INDIFRENÇA É UM CANCRO LETAL, OU O SINTOMA DO VIVO-MORTO, DA MALDIÇÃO DE UM ABRIL QUE JAZ.

Choro com lágrimas,  com o coração e a alma os mortos na guerra de África, milhares de jovens, e em todas as demais guerras, e com igual intensidade os mortos das guerras de hoje na Síria, Mossul e no mediterrâneo.

Choro com lágrimas , com o coração , a alma e grande dor as mortes do Alferes Milheiro, um pacifista com quem tanto falei, em 1970, na Escola Prática de Artilharia, e, depois, vou ocupar o seu quarto, em Mucaba, em 1972, quando ele já tinha partido e a do soldado Antunes, no mesmo ano , quando comandava esta companhia, numa operação militar, na Serra de Mucaba, em que tomei parte, num outro ponto, e, que, por sinal ,era um soldado por quem tinha um afecto particular- os comandantes muitas vezes, quase sempre, são humanos - e também, entre outros, a morte do irmão da poeta Graça Machado.

Mortos feridos e doentes por causa de um erro SUBHUMANO ABOMINÀVEL - AS GUERRAS, como o descobri na guerra de África e o registei no meu diário, (https://i.ytimg.com/vi/AWJKPa4iiuE/... ) logo que pisei o terreiro da guerra, em Dezembro 71, em Lumbala Velha/ Angola, e, então, questionei o general Bettencourt Rodrigues, comandante do sector do Luso, sobre as matérias da desastrosa condução militar da guerra, na minha opinião, no saliente do Cazombo.

E, mais recentemente, as trágicas e dolorosas mortes de dois instruendos dos comandos, que me levam a recordar um meu instruendo ferido numa instrução de progressão debaixo de fogo real, prova com o que não concordava totalmente, nem discordava totalmente, parecia-me importante, mas tinha algumas desconfianças quanto aos instrutores- atiradores, porém, o instruendo foi ferido por um ricochete, e eu, como instrutor, também fui ferido ,numa outra vez, com um estilhaço que me atingiu o pulso esquerdo... custos elevados.

Todavia, continua a haver guerra. Tenho pelos meus camaradas e militares que estiveram na Guiné, nomeadamente, Carlos Fabião, Golias, Duran Clemente e, ainda, os que estiveram em determinadas Zonas de Angola - os Dembos, e Moçambique Cabora Bassa a mais elevada consideração , todos  tiveram de ter grandes níveis de preparação , nomeadamente o capitão Carlos Fabião para manter uma serenidade histórica debaixo de fogo,  pessoalmente   agradeço à lotaria da sorte, não me ter designado para ir para a Guiné (se tivesse ido para lá , para além do maior risco de acidente e morte, considerando, também, como as coisas correram comigo, na minha relação com os comandantes de Batalhão e capitães, o que, anoto no meu diário, não sei como estaria o meu registo disciplinar, que não contem nenhuma medalha, mas sim 8 dias de detenção que me foram atribuídos pelo general Chefe do Estado Maior Garcia dos Santos... coisas... e alguns louvores por trabalhar, ser empenhado e ter cumprido missões difíceis - louvor dezembro 1974 - ) .

Porém, todavia, contudo, mesmo contra a vontade de muitos, em cujo grupo me incluo, há a GUERRA, e, por razões várias, os filhos do POVO vão ter que as enfrentar, ainda, por muitos e muitos anos, o que, tem uma consequência dramática- a necessidade da INSTRUÇÂO MILITAR PARA SOBREVIVER ÀQUELE ABSURDO. É por demais evidente que a Guerra é, sobretudo, DESUMANA, UMA BESTEIRA, mas seria bom, irem ver, quem não sabe o que pode ser uma guerra, entre outros o filme - “ O herói de Hacksaw Ridge -http://meiobit.com/348889/hacksaw-r...).

E, quanto à instrução militar, não acompanho visões ou paralelismos com cátedras, um professor que não sabe ensinar não devia estar na sala de aulas, o que, é fácil de determinar, embora, não se faça nada que afecte qualquer catedrático - reis absolutos nas faculdades, ponto.

Também nas Forças Armadas há sala de aulas, onde, encontramos grandes e inigualáveis mestres, como o, então, Major Sobral, professor de estratégia, no Instituto de Altos Estudos Militares, ( professores militares só encontrei um que fugia e, muito, a um padrão comportamental, tido como normal, muito embora, dissesse grandes verdades, mas muito radicais), e, aqui, apesar da sugestão de um meu camarada e amigo para ser mais aceitante com estes paralelismo, escritos em dois ou três parágrafos - a autoridade dita, não explica - considero, contudo, que a Instrução Militar para transformar um homem num combatente é de uma natureza completamente diferente das aulas discursivas e das teses debaixo de tecto.

Os que estiveram am Africa, ou os que estiveram no Afeganistão e Timor, actualmente, como então, se não tivessem sido os primeiros contingentes de comandos ou paraquedistas ,quase  de certeza que iriam acusar défice de formação. A formação militar dos comandos, no Afeganistão, apesar das questões que ocorreram no teatro de operações, levou a poupar vidas. Os portugueses estiveram lá, e quase de certeza vamos ter de estar noutros sítios, por guerras encomendadas, ou não, por americanos ou russos, só que depois de nascidos Talibãs e DAESH até se evitar o surgimento destes sujeitos terroristas, a nossa segurança vai exigir, quiçá, a nossa intervenção militar. Os americanos podem ser mestres em provocarem guerras, mas vão ser cada vez menos dados a nos ajudarem.

Então, falemos da instrução para sobreviver em campo de batalha. Fui instrutor de Cursos de Sargentos e oficiais milicianos que foram para a guerra, onde, depois fui encontrar-me com eles, em Angola, e verifiquei que todos os conhecimentos que aprenderam, e o treino físico foi importante, e, desgraçadamente, duas das mortes que aconteceram naquela companhia de Mucaba foram por não terem posto em prática  os conhecimentos adquiridos. A instrução que dei era, foi, muito rigorosa, como eram as operações apeadas na guerra colonial, progredindo   ao lado de trilhos ou a corta mato, o que, treinei até há exaustão nas terras alentejanas, e mais tarde na serra da boa Vigem, na Figueira da Foz, aqui, já no comando de companhias de soldados recrutas, nos idos de 80, que me avaliaram, muitos, quase sem saberem escrever, mas em mais de 90% das centenas de avaliações ressalta: o rigor e o humanismo.

Porém, na instrução de combate: progressões , treino físico especifico; ao nível dos militares operacionais são testados os limites de cada um, e, ainda, mais nas forças especiais. Todavia, estes limites têm de ser testados mobilizando a motivação ,sem recurso a técnicas de diversão folclórica e ofensiva, sem nunca se ultrapassar as linhas vermelhos, isto é, colocar o instruendo num grave risco de vida, e esta linha vermelha, difícil de definir, tem de estar sempre presente no planeamento e execução da instrução, sendo a execução feita pelos tenentes ( também fui tenente) exige uma supervisão técnica dos superiores hierárquicos muito apertada.

Não posso ver ódio patológico em relação a um instruendo , por  um tenente, sargento, a não ser em caso muito extremo e excepcional e não em série , mas pode haver imaturidade, um comportamento histriónico mais acentuado e uma enorme ignorância do que é um ser humano, inabilidades que não podem, não poderiam nunca terem existido, desde há muito, desde sempre, e que, no caso de terem existido, no terreno, causando lesões graves, necessariamente teriam de ter uma reposta sanitária de emergência que revertesse a situação e poupasse vidas, como também tantas vezes aconteceu nas matas africanas em condições extremas, que nunca poderiam, ou deveriam ser replicadas, tantos anos depois, no solo dos quarteis portugueses.

É com a mais grave consternação que falo das mortes dos dois instruendos, porque são jovens, um até madeirense,  acompanho as dores dos seus pais, todavia, por todos nós, defendo a necessidade da Instituição Militar e do Exército, a nível interno, sobretudo,  quando olho que há um general Comandante Geral da GNR com um poder avassalador, que pode ser altamente hostil para os portugueses, se houver desvios políticos no sentido autoritário, e também pelas ameaças externas.

Contudo, há mais assuntos a tratar a montante e a jusante  da instrução,  como o recrutamento  e  aselecção  destes militares, como o tenho defendido, desde 1995/96 e, nomeadamente, aquando do desempenho das funções de Director do Centro de Psicologia Aplicada do Exército, nos inícios de 2000, que hoje com amargura revi, a saber:

1- o seu recrutamento e seleção tem de se basear num contrato muito sólido e não em operações de marketing;

2- a selecção tem de respeitar rigorosamente os parâmetros definidos nos perfis de competências, nos parâmetros das  habilidades e biológicos , sem nenhum facilitismo;

3- uma formação militar exigente, mas com todos os parâmetros biológicos, psicológicos, cognitivos e emocionais sob controlo;

4- a dessensibilização destas formações, aquando da passagem à disponibilidade dos  militares e estudos longitudinais comportamentais de follow-up, depois da saída da vida militar, como , o defendi num processo no Conselho Superior Disciplina do Exército, aquando de um julgamento de um sargento paraquedista.

Mas, sobretudo, a resolução de todo este Grande Mal só pela   a PAZ; a LIBERDADE; a DEMOCRACIA;  a JUSTIÇA SOCIAL E O  DESENVOLVIMENTO A NÍVEL PLANETÁRIO.



andrade da silva

2 comentários:

C.M.Pereira disse...

Sobre esta instrução sugiro a leitura duma passagem dum livro do Sr Cor Rodrigo Sousa e Castro,por sinal oficial da sua arma,quando o seu curso foi obrigado a fazer um curso de comandos. Antecipo que no final todos os oficiais recusaram a especialidade com excepção dum que curiosamente veio a ser Cmdt Geral duma força de segurança.
Cumprimentos
Carlos M.Pereira

andrade da silva disse...

Caro CM Pereira

Sobre instrução, sobre selecção como director do Centro Psicologia Aplicada (CPAE) assinei relatórios oficiais, fizemos estudos em relação ás desistências, do RV, 20 % nos primeiros 12 meses, muitos por causa de problemas de saúde, obtivemos despachos .... MY GOD!

Também no meu curso de artilharia, em 1970, nenhum aceitou ir tirar o curso de comandos e as razões no meu caso, como creio que nos meus camaradas, eram evidentes, discordava dos métodos de instrução, da dita acção psicológica que não o era e das frases feitas ,e porque também não me sentia com adequado nível de competência. Todavia uma dada instrução de comandos é fundamental, sendo que o paradigma é idêntico ao das outras forças especiais das Forças Armadas e das de segurança. Contudo o que há a fazer já devia estar feito e concluído há muito, e de um modo diacrónico antes da incorporação, na selecção, formação e no flow -up, problemas muito abordados, já, em 2004, em relação a todo o exercito, mas...

No caso em apreço e para além de todos os eventuais erros militares, ou outros bem mais graves, como leigo em medicina, não compreendo que em 2016, quando se está em Alcochete, ou noutro ponto de Portugal, com médicos e enfermeiros por perto se possa morrer de insolação, creio que deveria ser uma situação reversível, mas não sou médico...

Vou tentar pedir ao meu camarada Sousa e Castro que me informe sobre esse seu parágrafo.

Bem-haja

Cumprimentos
asilva