sábado, 26 de novembro de 2016

05 - POEMÁRIO * A nova banda





Não são meus estes caminhos
nem é meu este arvoredo
onde as aves fazem ninhos
e me cantam em segredo
hinos de amor e verdade
com asas de liberdade.


Estas terras não são minhas,
só são minhas as canseiras
de sol a sol nestas vinhas
onde colho nas videiras
promessas de olor e mosto
no calor do mês de Agosto.


Não são meus estes trigais
nem as papoilas sangrando.
São meus apenas meus ais
deste infortúnio em que eu ando
de um amanhã esperando
que virá mas não sei quando.


Só é meu este cansaço
que é noite quando adormeço.
Nem à força do meu braço,
sendo minha, faço o preço.
Este mundo é uma banda:
toca o que o regente manda!


Ouço falar de direitos,
de justeza ouço falar.
Serão caminhos estreitos
onde eu não posso passar,
porque o mundo é uma banda:
toca o que o regente manda.


Talvez de regente eu mude,
não me serve o que ele manda.
Só um tolo é que se ilude
rodando neste ciranda.
Se tanto eu já soube e pude,
vou criar a minha banda.





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 25 de Novembro de 2016.

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