segunda-feira, 30 de abril de 2012

FLORES DE ALCÁCER: O MEU 25 DE ABRIL DE SEMPRE.




Desde sempre que comemoro o 25 de Abril, da LIBERDADE/DEMOCRACIA, DA DIGNIDADE E DO DESENVOLVIMENTO junto do povo que sirvo, e me reconhece como povo igual a eles. Sempre foi assim de Airão/Guimarães, a Alegrete/  Portalegre, passando por Pragal, Almada, Montemor-o- novo.

                                            23 de ABRIL

Este ano iniciei as comemorações no dia 23 de Abril, na escola secundária de Alcácer-do-Sal, com os alunos do 12º ano,  para lhes transmitir as seguintes mensagens:

1 – O transcendente valor da conquista da liberdade pelo Movimento das Forças Armadas, (MFA) que poupou tanto sangue e mortes aos portugueses, como os casos da Síria, Líbia e Egipto ilustram, e outros que se podem seguir, como os casos de Angola, China etc.;

2- O grande valor para aqueles jovens e os seus pais do 25 de Abril, se não tivesse acontecido, os pais de alguns jovens portugueses podiam não o ser, por terem ficado na guerra, ou serem deficientes das forças Armadas. As guerras de África poderiam demorar mais 30, 50 , 100 anos;

3 – O 25 de Abril,  como um dos factos mais gloriosos da História  de Portugal, com os seus heróis individuais: tenente Assunção, capitão Salgueiro Maia, Alf Souto Maior e o cabo que não disparou sobre o Salgueiro Maia, e o herói colectivo –os militares e o Povo;

4 –O legado que os jovens recebem e o povo Português e que devem continuar e aprofundar:

5 – O testemunho vivo  de que a maioria de nós do MFA, apesar de todas as vicissitudes,  do alto preço que pagamos e da situação em que nos encontramos, consideramos que valeu apena, e continua a valer a pena lutar pelos mesmos IDEAIS.

A turma captou as mensagens, para o que muito contribuiu as intervenções criticas e complementares de alguns alunos: O Francisco, a Joana e dois outros jovens com o nome de Miguel.

O contacto com os jovens é sempre um momento de raro privilégio para continuar a construção de Abril.

Obrigado ao José Ramos de Grândola e ao professor Luís.

                           24 e 25 de ABRIL

Em 24 rumei a Assumar,  antes passei por Vendas Novas, almocei no restaurante,  meu conhecido daqueles tempos, o Bela Vista, falei com o seu dono, e soube da morte de um camarada que muito prezava pela sua permanente boa disposição – o coronel Barata da Neves - que conheci, quando Major.  Por ele cai-me uma lágrima.

Recordei o roteiro gastronómico: o Prego, com o seu dono ainda vivo, era a catedral do bacalhau a gomes de sá; Bombel por causa das febras, aqui já sabia que o dono tinha posto fim à vida; a Feiteira por causa do coelho à caçador e ainda a tasquinha junto ao polígono de tiro, onde, segundo o seu dono, identificado como tenente,  fui o primeiro ali a  entrar,  e , em 24 de Abril 74 o meu pelotão com o aspirante Oliveira, meu adjunto, jantavam, enquanto eu trabalhava para a tomada do quartel.

 O dono da tasquinha morreu, mas a sua mulher continua a obra, estive para ir visitá-la, mas depois desisti. O dono do Bela Visa prometeu-me que quando por ali voltasse a passar comeria o melhor Bacalhau de Portugal e arredores.

Ainda encontrei um camarada de armas que andou por Lumbala Velha/Angola e tem contactado comigo pelo facebook, foi bom  ver-te, e, ao vivo, desmentir aqueles que dizem que morri. Se leres este texto fala por mim à viúva do senhor da tasquinha do polígino, e diz-lhe que considerava muito o seu marido que tão bem nos tratava, com os passarinhos e óptimas saladas de alface. Obrigado a ele,  onde, quer que estejas. Choro a sua partida.

Em Assumar descobri a extraordinária dimensão humana, cultural e de poeta de meu camarada do MFA,  do militar de Abril, Matos Serra  e a bondade da sua mulher.

 Com este contacto também fiquei a saber um pouco mais sobre alguns mistérios do 25 de Novembro 75, e da razão do pronunciamento dos praças e sargentos para-quedistas, bem como dos objectivos da sua acção e de   como o Copcon, vergonhosamente,  os abandonou à sua sorte, ou desgraça.

 Também  o sindicalista presente na sessão estava em 25 de Abril num dos  supermercados do  Pão de Açúcar, próximo do Pragal, e  logo que os trabalhadores daquele estabelecimento souberam que estávamos no Pragal fecharam as portas, e levaram para as nossas posições alimentos, o que, depois foi feito pela população do Pragal, com base no restaurante, onde, mais tarde Fernando Tordo e Luísa Bastos muitas vezes cantaram ao vivo, e com raro prazer os ouvi.

Também no Pragal voltei a comemorar o 25 de abril com o Chico Patrício (delegado do sindicato dos mineiros de Aljustrel nos anos do PREC, um grande amigo que já partiu, mas a sua filha,  Carla Patrícia, é minha amiga virtual no facebook) e outros amigos de Almada.

 O Pragal, aonde, chegamos na manhã do 25 de Abril 74, com o fogo que queimaria a ditadura, para fazer nascer a Liberdade, é  um lugar memorável e as suas gentes verdadeiros MFA.

Seguindo o roteiro deste  ano, no dia 25 de Abril estivemos em Alegrete. Transmitimos as mesmas mensagens, e por todos fomos muito bem acolhidos:  pelo presidente da junta e pelo grupo coral, dirigido por um nosso camarada de armas, o sargento-mor Frazão.

 Aqui também reencontrei um militar das bandas que no dia 4 de Dezembro de 1973, esteve na Escola Prática de Artilharia, no dia de Santa Bárbara e da Artilharia, contou ele, que naquele dia sentiu grande tensão no ar e nos discursos, e não era razão para menos, pois na Escola tínhamos posto a hipótese de prender todos o dignitários militares presentes, entre eles o Ministro do Exército, que teve a sua sina de fim de mandato muito relacionada com a Escola Prática de Artilharia, pois no dia 25 de Abril  74 iria visitar a mesma Escola, mas já não saiu de Lisboa.

Nesta sessão alguns jovens marcaram presença e no fim da mesma, para minha grande alegria  vieram dar-me conta de quanto a nossa mensagem e o modo expressivo  como lhes falei tinha tocado fundo nas suas Almas.

                          28 de ABRIL

Em 28 de Abril estive em Montargil com os resistentes, com os que ainda têm uma cooperativa agrícola de pé – a Nova Força – Uma cooperativa de mulheres que nunca desistiram.

Nesta terra muitos sabem o que foi a Reforma agrária, muitos sabem que aquelas terras até Coruche sendo de regadio, e havendo muita água podiam dar  pão e emprego que não dão, porque os tiros, os cães e as bastonadas da GNR, por força da lei antipatriótica de António Barreto terminaram uma grande experiência de produção agrícola, e  levou, de novo,  ao abandono das terras e à criação de Hotéis de 5 estrelas que só podiam falir, como aconteceu, sem nenhuma mais valia para o povo.

Nesta terra,  Montargil,  o coração mais empedernido e diabólico chora com a dor destas pessoas que para serem tratadas das suas doenças: ora têm de  se deslocar ao hospital de Portalegre; ora a Abrantes, de acordo com as especialidades.

Todavia, não vi em ninguém, desta gente tão sofrida, desamimo, mesmo nos que padecem de cancro e têm de se deslocar a Lisboa, em seguimento do tratamento, de 3 em 3 meses.

Gente heroica que não morreu sob as balas da GNR, para o que tiveram de se atirar para valas de água, e ficarem só com a cabeça de fora, para respirarem, também não morrerão sob a pata das medidas para vencer esta crise. Medidas socialmente injustas e brutais, porque atingem com mais violência e virulência alguns, deixando de fora muitos políticos e outros que, por exemplo,  beneficiaram da monstruosa fraude do Banco Português de Negócios (BPN) que nos leva até ao último cêntimo, sem que os responsáveis sejam julgados e os seus bens arrolados, e a este julgamento não deviam escapar quem nacionalizou, de um modo odioso e comprometido,  toda a toxidade deste banco.

Todavia um  grito de grande revolta  é preciso dar e  fazer ecoar  - CONTRA O DESRESPEITO POR  ESTE POVO E PELO PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL DE MONTARGIL. A SUA CASA DO POVO, BELO E BONITO EQUIPAMENTO DEIXADO PELO REGIME ANTERIOR, COM A SUA ARQUICTETURA CARACTERISTICA E MUITO BEM INSERIDA NO ESPAÇO RURAL, ESTÁ NUMA FASE INACEITÁVEL DE DEGRADAÇÃO.

Gritei e grito junto de todos,  e vos digo lutem, exigem o vosso centro de saúde , cujas obras começaram e estão interrompidas há um ano e  têm de recomeçar, e também  a vossa casa do povo tem de ser restaurada,  tem todos os vidros partidos que foram substituídos por tábuas, dando a tão bela joia o aspecto MISERÁVEL DE PARDIEIRO – INACEITÁVEL, INTOLERÁVEL . LUTEM TODOS OS DIAS PARA POREM  COBRO a TAMANHA BABARIDADE.

A todo o povo de Montargil o meu abraço, e obrigado,  em especial ao José Lopes.
Assim aconteceu, e se fez o meu 25 de Abril de sempre.

 Já agora se, entretanto, morrer que se juntem: a minha família e os meus amigos, num quintal qualquer  e cantem Abril, bebam um  bom tinto  e comam umas febras, se possível no Pragal junto ao Cristo Rei,  na casa onde  com o Chico Patrício comemorei Abril .

Seria um óptimo sítio, mas se nada fizerem não me zango, até porque a festa é sempre para os viventes, e, eu nem em vida me aborreci com os que nunca deram pela minha existência que, aliás,  é igual ao de 99,99% dos portugueses, ou seja com pouco, ou nenhum significado para os outros. Só me dou a esta coisa, de bastante trabalho, de escrever estas e outras coisas vãs… coisas…

Gente sofrida, gente humilde, gente amiga, gente de Abril, entre vocês sinto-me em casa, na minha casa de hoje, como na da minha mãe e irmãs.
Abraço-vos.

andrade da silva

Foto: flores selvagens de Alcácer.

6 comentários:

Marília Gonçalves disse...

imenso Grito! terrível testemunho!
Mas fica a esperança do olhar e do sentir da Juventude
Cabe aos Jovens erguerem no Caminho a Luz de Abril, para que se reacenda, potente e clara. So assim conquistarão, Jovens o Futuro Digno e alegre a que têm direito.
Se deixarem apagar Abril, que hoje lembra ténue lamparina, o que conhecemos sol intenso
Reconquistarem Abril equivale a reconquistar a alegria de viver, fraternos, amigos e com ua bela realidade a repartir
Abraço de Abril Sempre
Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

lindas flores nos trouxe. Que se multipliquem num festival alegre e colorido, pelo Povo de Abril Eterno

marilia

andrade da silva disse...

marilia

O meu testemunho é intimista, nestas terras as ruas e os lugares nem se enchem de idosos, nem de jovens, não são as avenidas da liberdade de Lisboa; Setúbal ou Porto com mares de gente, onde, os príncipes se apresentam ao povo,nestas terras são muito poucos os que respondem à chamada, e são concidadãos muito sofridos e sofredores, muitos outros já desistiram e outros nunca saíram da sua zona de conforto

Quem vai a estas terras recebe do ponto de vista pessoal e humano lições maiores de vida, mas não vê força, massa suficiente para qualquer arrancada social.

Não viu terras a vibrar,viu terras na antecâmara da morte, e não subi além de Portalegre, e isto,é muito, muito preocupante.
abraço
asilva

PS:as flores oram fotografada junto à Escola secundária de Alcácer.

Marília Gonçalves disse...

PORTUGAL DENTRO EM POUCO VOLTA A SAIR à RUA

UM NOVO ABRIL EM QUALQUER MÊS

VAI RESTITUIR A DIGNIDADE E VAI REABRIR AS PORTAS DO FUTURO

Marília

Marília Gonçalves disse...

Meu Capitão

que linda História a sua, caro amigo, que vida bem preenchida de pessoas de tanto valor, que fazem parte do jardim de Abril
você foi um dos Construtores da História e a História ao longo da vida, mesmo por entre dores e sofrimento, restitui-lhe o perfume que lhe é devido.
Grandes Jovens Capitães! que haja hoje quem vos siga o Caminho e que nova geração de Jovens Militares, conscientes do Amor a Portugal e ao Povo, façam um novo Abril, com o mesmo Espírito, aberto e generoso.
Viva o 25 de Abril de 1974 e todos os que o fizeram!
O meu abraço amigo.
Marília Gonçalves

andrade da silva disse...

Marilia

Os caminhos que Portugal segue parecem dispensarem-nos por completo, alguns de nós devemos parecer marcianos para a piolheira nacional e para os coiotes disfarçados de pseudo intelectuais ou de revolucionários da asneirada.

abraço