sábado, 24 de setembro de 2011

OS DESESPERADOS: UMA AVALIAÇÃO TRÁGICA À ESQUERDA E O CINISMO MORALISTA E SNOB DO BURGUÊS BEM PENSANTE.





" ESTE TEXTO É DIRIGIDO AO ÍNTIMO, AO MAIS ÍNTIMO DE CADA UM, NUM ENCONTRO CONSIGO MESMO, SEM MEDO DE NENHUM BIG BRATHER".



Notícia o Correio da Manhã de 23 de Setembro, que um homem desesperado, porque tinha, em casa, a família com fome, de cabeça perdida assaltou uma loja, ameaçou e intimidou a funcionária de serviço.

A funcionária lá entendeu fazer de conselheira e lá foi, dizendo ao Homem que por aquela via nada resolveria, e que ainda ia criar mais um problema. Todavia o homem de tão perdido não deu ouvidos ao bom discurso da boa samaritana, nem sequer deu conta que estava a ser filmado, pediu desculpa, e levou 500€.

Deve ter comprado um cabaz de compras, dado de comer à família por uns dias, mas já deve ter sido detido, deve estar em prisão preventiva, porque há o perigo de continuar a actividade criminosa, e quando for julgado deve apanhar 2 a 3 anos de prisão, na melhor das hipóteses com pena suspensa, porque é um grande ladrão. Ladrão ordinário. Pudera!

Todavia, para os revolucionários instalados na vida e certos de que isto não lhes acontecerá, ou que se eventualmente lhes  acontecer e militarem nos partidos ou nos sindicatos, os companheiros ou camaradas os ajudarão, aos que estão de fora das organizações partidária, sindicais ou outras, dizem façam a revolução socialista, só que esta tarda, tardará, e os desesperados e as suas famílias, de um, ou de outro modo, morrerão, porque ou não recebem alimentos, ou recebem alimentos contaminados, como foi denunciado publicamente e morrerão de podridão gastro-intestinal.

Para a burguesia bem pensante, arrogante e segura de si, lá dirão o que a pobre funcionária disse: Oh amigos não roubem, isso é acrescentar mais um problema aos outros. Só que para muitas pessoas JÁ NÃO HÁ NENHUMA SOLUÇÃO: ou morrem de fome, ou fazem qual qualquer coisa,  para sobreviverem, ponto.

Compreendo que a arrogância, o autismo,ou a alienação e o dogmatismo de uns e outros nem os leve a porem-se na situação destes desesperados. Mas se tivessem uma família em casa a gritar de fome e talvez sem luz, água e ameaçados de serem expulsos de casa, que fariam: a Revolução, mas a maioria da população está instalada nesta podridão, neste nojo de sociedade, nesta farsa grotesca e imoral da politica Nacional, Europeia e Mundial, logo, a Revolução é pouco provável; ou, esperariam pelo desfecho da revolução que um dia, não se sabe bem quando acontecerá, mas poderá acontecer, por força de muitas circunstâncias, sobretudo o DESESPERO, mas quando? Ninguém em boa verdade o pode dizer, logo há que cuidar dos excluídos pelos poderes dominantes.

Como tenho dito e confesso pessoalmente atingi o limite da minha capacidade de ajudar de um modo eficaz qualquer pessoa individualmente, e que a nível das instituições tenho total reserva nas ONG'S, porque como tem sido denunciado, esmagadoramente, consomem as verbas em despesas de funcionamento, ainda e apesar de tudo mantenho o meu apoio e confiança sob reservas em relação à UNICEF, Lar do Comércio, e de algum modo aos Médicos do Mundo, perante todo este quadro de suspeição, considero com urgente a necessidade de se criarem redes de vizinhança de apoio social a pessoas excluídas de todas as redes de apoio e conhecidas dos membros daquelas, o que, diga-se em abono da verdade já muitos militantes do PS fazem fora das estruturas partidárias, são pessoas solidárias Bem- hajam.

Nestes termos mantenho aberta a proposta que endereço de novo a todos para fazerem nas zonas onde moram estas redes fora dos partidos e dos sindicatos ou mesmo contra a filosofia destes.

A vida e a dignidade humanas são um valor mais importante que os objectivos particulares político-partidárias que ao esquecerem as situações concretas infrahumanas de muitas mulheres e homens não têm dimensão universal, e procurem apoiar de um modo eficaz e urgente quem está em situação desesperada.

É preciso acudir directamente com actos aos desvalidos e não com discursatas. Como já declarei estou disponível para apoiar e integrar redes deste tipo, em termos muito simples e operacionais, ou seja, um conjunto de pessoas comprometem-se a dar um dado contributo, para se acudir a pessoas, privilegiando o conhecimento directo, que estejam excluídas de todas as redes de apoio. Todavia para avançar com esta ideia é preciso que uns quantos cidadãos manifestem a sua adesão e disponibilidade, o que não tem acontecido.



andrade da silva.


1 comentário:

Marília Gonçalves disse...

La grasse matinée

Il est terrible
le petit bruit de l'oeuf dur cassé sur un comptoir d'étain
il est terrible ce bruit
quand il remue dans la mémoire de l'homme qui a faim
elle est terrible aussi la tête de l'homme
la tête de l'homme qui a faim
quand il se regarde à six heures du matin
dans la glace du grand magasin
une tête couleur de poussière
ce n'est pas sa tête pourtant qu'il regarde
dans la vitrine de chez Potin
il s'en fout de sa tête l'homme
il n'y pense pas
il songe
il imagine une autre tête
une tête de veau par exemple
avec une sauce de vinaigre
ou une tête de n'importe quoi qui se mange
et il remue doucement la mâchoire
doucement
et il grince des dents doucement
car le monde se paye sa tête
et il ne peut rien contre ce monde
et il compte sur ses doigts un deux trois
un deux trois
cela fait trois jours qu'il n'a pas mangé
et il a beau se répéter depuis trois jours
Ça ne peut pas durer
ça dure
trois jours
trois nuits
sans manger
et derrière ce vitres
ces pâtés ces bouteilles ces conserves
poissons morts protégés par les boîtes
boîtes protégées par les vitres
vitres protégées par les flics
flics protégés par la crainte
que de barricades pour six malheureuses sardines..
Un peu plus loin le bistrot
café-crème et croissants chauds
l'homme titube
et dans l'intérieur de sa tête
un brouillard de mots
un brouillard de mots
sardines à manger
oeuf dur café-crème
café arrosé rhum
café-crème
café-crème
café-crime arrosé sang !...
Un homme très estimé dans son quartier
a été égorgé en plein jour
l'assassin le vagabond lui a volé
deux francs
soit un café arrosé
zéro franc soixante-dix
deux tartines beurrées
et vingt-cinq centimes pour le pourboire du garçon.

Jacques Prévert