segunda-feira, 27 de junho de 2011

ANGOLA 71- 72: LUMBALA VELHA,CAVUNGO, MUCABA.NEGAGE, DAMBA PRESENTES, ATRAVÉS DOS SOLDADOS DE PORTUGAL.

( casamento por procuração de um furriel em Mucaba)





( Operação de Artilharia no Norte de Angola)







(Falando à 3416 de Lumbala Velha, em Barcelos)







( Os representantes da 3416)





OS NOSSOS MORTOS:


ALF MILHEIRO, EM COMBATE,


ALF BEXIGA PARTIU, SIMPLESMENTE ANTES DO TEMPO,


CABO RIBEIRO, NUM ACIDENTE AUTO EM OPERAÇÕES,


FURRIEL LOPES, NUM ASSALTO À MÃO ARMADA EM LISBOA


FURRIEL MARTINS PARTIU, SIMPLESMENTE ANTES DO TEMPO.





TODOS OS NOSSOS MORTOS E OS QUE ESTÃO LONGE, OU DOENTES, TODOS, ESTÃO CONNOSCO HOJE E SEMPRE.






Em Junho, andei pela Batalha, Mealhada e Barcelos para me encontrar com estes venturosos jovens soldados de Portugal que, em 71, 72, em Angola, conviveram comigo, em situações muito variadas.



Fui comandante de pelotão ou companhia, mas quase sempre, relacionei-me com eles, como preparador da equipa de Futebol e, como um Alferes do quadro permanente que em termos militares cumpria estritamente a sua função, sendo para muitos a minha curta presença significativa, como fizeram questão de dizer e até, com uma recordação inesperada, um jarrão de Barcelos da 3416, a primeira companhia onde estive, e aonde cheguei em 23 Dezembro 71.



Foi a primeira ou 2ª vez que estive nestes encontros, e na primeira vez vamos sempre à procura de alguém, por uma razão particular. Assim, na Batalha quis saber do Furriel Lopes, com quem fiz a minha 1ª operação militar no leste Angola, em Cavungo. Com dor e revolta recebi a notícia que velhacamente foi morto num assalto à mão armada em Lisboa.



À minha lágrima junta-se toda a indignação. Assassinos, bandidos, prisão perpértua para estes assassinos sem perdão, a não ser que de um modo incontronável revelem um arrependimento e uma reintegração social inquestionável, mas nunca antes de 15 a 20 anos de reclusão. Lopes um abraço.



Também ia à procura do Furriel Martins, porque sendo o treinador da equipa de futebol consta no meu diário que não aguentou um treino de preparação física. Recebi a notícia da sua partida prematura. Uma lágrima e um abraço.



O alf Milheiro era um pacifista de quem fui instrutor em Vendas Novas, e com quem falei imensas horas. O cabo Ribeiro era um rapaz extraordinário a quem preguei um grande susto, e assisti à sua partida para um ponto da operação militar, em que também ia participar, ainda lhes gabei a sorte por irem para um posto de retransmissão, enquanto nós íamos subir e descer montes.Nós regressamos e ele não.Abraço amigo.



O alferes Bexiga também faz parte dos meus registos quase diários da guerra.



Há outros vivos que muito gostaria de voltar a vê-los, foram grandes camaradas, como o furriel Mourita. Vários estiveram ausentes, mas graças ao esforço de alguns, muitos estiveram presentes e vamos continuar a nos encontrarmos.



Nestes encontros recordamos sempre os momentos de aperto, mas sobretudo os de grande camaradagem e aventura. Há de facto no meio destes jovens, de então, verdadeiras histórias e heróis da banda desenhada que, de um modo simples e espontâneo, contam as suas vivências, é aquele que era o caçador de serviço; outros que numa ou noutra operação me experimentaram a ver se me borrava, nisto perderam sempre; é aquele Sá, de que alguns tinham um certo temor; é aquele que com o seu espírito de empreendedor queria fazer alguns negócios e ainda o comerciante, que em Mucaba me vendeu um relógio oriente, por 1200 escudos, uma fortuna, diz actualmente o vendedor que era uma grande máquina, seria? Não tenho a caderneta de saúde do dito cujo.



Em Barcelos falei à primeira companhia que comandei, e até parece que estou a dar música, mas estou a iniciar a intervenção lendo a impressão que aqueles militares, meio fardados, meios nus, me causaram:" Cheguei a Lumbala. A zona parece-me engraçada. Quanto ao aspecto militar, por, agora prefiro nada dizer". Para preferir-me calar, o que não senti, devo ter tido um baque.




Todavia, passado o primeiro choque, sempre gostei de estar com estes soldados de Portugal, e sempre me custou muito dizer-lhes adeus. Era de facto bastante amigo e camarada de quem comandava, mas nunca sendo do tipo porreiro do deixa andar. Nunca.



Finalmente, soube que o título que me colaram do Vaidade e Silva, vinha já de Lumbala, embora pensasse que tinha nascido no pelotão de apoio do Negage, onde, então, era furriel um filho de Champalimaud que tinha a mania de ser mais que os outros, no que de facto nunca alinhei e logo...



Ainda, uma palavra inequívoca, nós estivemos em Angola, como soldados de Portugal, e nunca como soldados do regime. Quer antes ou depois do 25 de Abril somos soldados de Portugal, e agimos sempre em nome do Povo Português de quem, de um modo ou de outro, emana o poder ou é por si sustentado. Agimos em nome de Portugal e por Portugal.



Obrigado e um abraço a todos, e àqueles que sentem honra por ter sido um militar de Abril e serem meus amigos. Um obrigado especial aos que tão bem organizam estes encontros. Um abraço ainda ao Mário Silva, ao Cândido, ao Salgueiro Maia, ao Celestino, ao Quim , ao Berto, ao Moreira ao Fernando Gomes e a muitos outros que também me vão lendo no face ou no blogue.




Abraço camarada de leal companheiro



andrade da silva

3 comentários:

TIA BELA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
andrade da silva disse...

Este é um depoimento muito soft, não fomo dos mais sacrificados, para muitos não fora o isolamento, às màs condições de alimentação e habitação e a coisa enfim, enfim...
asilva

jose carlos pereira macedo disse...

Eu estive no Cavungo em 1973/74/75,fomos os últimos militares que por lá passaram.Éramos a 3ª Compª do Bat. Caç. 4212.Tínhamos os destacamentos do Massibi e Jimbe e depois começamos a fazer colunas para Teixeira de Sousa.Todos os anos fazemos encontros e são sempre no 1º Sábado de Dezembro e no 1º Sábado de Junho.Se quiseres aparece.TEL.253683359--914744878..Macedo.Ex. fur. de Operações Especiais.