domingo, 24 de abril de 2011

24 ABRIL 74, 22H 55’:




24 ABRIL 74, 22H 55’: E DEPOIS DO ADEUS, CANTA PAULO DE CARVALHO.

No 25 de Abril 74, naquela longa, fria, escura e silenciosa noite de 24 de Abril,   por todo o país se tomaram as unidades para a revolução.
Da minha parte, em Vendas Novas, às 22 e 55’, em ponto, sem nenhuma hesitação, de arma na mão, disposto a disparar para não morrer, porque era suposto que o comandante da Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, estivesse armado, logo aos primeiros acordes da canção “E depois do Adeus” de Paulo de Carvalho,  chefiando a equipa de assalto, constituída por mais 2 tenentes,  tudo jovens de 25 anos, voamos do ponto, em que estávamos, num quarto do meu camarada Sales Grade,  para deter o comandante da unidade e o 2º comandante, este, bom  militar que se pudesse reagiria, opondo-se à tomada da unidade.
Conhecíamos estes riscos imediatos de sermos mortos, ou termos de abrir fogo sobre militares que respeitávamos, o que, era tremendo, e só por uma grande causa podia ser feito, como o entendíamos e  o entendo hoje. Aquela missão era para  salvar a Nação, Portugal,  de uma morte lenta.
Cumprimos sem hesitação esta missão às 22 h  55’ do dia 24 de Abril 74. A Escola Prática de Artilharia é a 1º unidade a entrar na revolução. Hoje falo com muito orgulho deste feito, mas sobretudo muito respeito por aqueles jovens, pois, para mim, eles já não somos nós, mas actores e autores da nossa história a quem os portugueses devem um dos feitos mais extraordinários da nossa história, nunca antes vivemos um período tão longo de democracia, como actualmente, nem nunca antes as preocupações sociais  foram tão levadas a sério.
Em 1910 a República herda um país miserável, e esta também foi a herança que o fascismo doou à Democracia que ao longo destes anos muito a combateu, mas,  agora, começam a surgir   sinais de que se querer  voltar para trás, o que, não pode ser consentido, e exige alerta e luta,  luta muito dura e arriscada. Que a coragem destes jovens tenentes, capitães e soldados, nas horas difíceis de hoje nos sirvam de guia.



2 comentários:

andrade da silva disse...

Obrigado Marilia

Um apontamento de história, de um facto que aconteceu há 37 anos, cuja autoria é roubada e dada a outro capitão que nem à hora do facto estava na Ecola Prática e hoje declara para a posteridade que foi ele que deteve o comandante e o 2º comandante, este, na sua casa, quando ambos foram detidos à mesma hora e pela equipa que chefiei. Gente sem vergonha.

andrade da silva disse...

A imagem é da autoria de Fernando Ribeiro.