segunda-feira, 28 de março de 2011

IR A ROMA E VER O PAPA

Nota: Como tinha previsto no meu último texto antes de ir para Roma, que ao chegar ao pântano português ia estar mais pantanoso, e aí está.

Andei por Roma, e vi o Papa, nas suas habituais recepções ao ar livre para os fiéis e outros, como seja o meu caso.

Lá de longe e mesmo pela imagem transmitida pelos grandes écrans parece uma figura com alguma fragilidade, própria dos seus 84 anos, e, assim, como um bom avozinho ia lendo mensagens em diversas línguas para os diversos peregrinos, sobretudo jovens que logo faziam grande barulho a dizerem que ali estavam, quando as suas escolas eram citadas. A mesma juventude Universal, bela, generosa.


Nos textos o Papa falava-lhes de personagens históricas das suas terras e dos valores cristãos que sempre defenderam, supostamente sempre, o amor, a fraternidade, o trabalho. Não sei se os jovens o escutavam, mas estavam lá, e sempre muito inquietos e nas suas brincadeiras costumeiras com os outros.


Mas ao olhar para aquele papa não pude abstrair-me da imponência daqueles monumentos, de toda a estrutura administrativa de poder do Vaticano que na sua grandeza se continua a perpetuar, como capital de um grande império religioso, e, assim, um homem frágil pode ser o sucessor de outros que não o foram, e determinar de um modo tão forte o destino de muitos milhões de pessoas.


De facto, contrariamente, ao que alguns afirmam as religiões não são uma forma de ignorância activa, muito pelo contrário, são um grande desenvolvimento do saber fantástico, a que se associa todo o peso e eficácia da semiótica e do deslumbramento e esmagamento da pompa material para seduzirem e, ou aprisionarem as almas sem qualquer saída possível.


O museu do Vaticano tem dimensões modestas, quando comparado com o Louvre, mas é uma bela jóia, e revela a mecânica, como todos os príncipes do poder, e, sobretudo os déspotas perpetuam o seu poder, recorrendo ao culto dos mortos para se glorificarem. Neste culto têm especial destaque os pobres pelintras dos mártires, como: Pedro, crucificado de cabeça para baixo para se distinguir do seu mestre e Paulo decepado. Para além deles os imponentes papas, merecendo uma especial atenção João Paulo II. O bom Papa João XXIII, lá está, solitário, dentro da Basílica e com pouca gente junto dele. Perante a sua memória e bondade me curvo.


Na Capela Sistina lá se fica a saber que Miguel Ângelo não era pintor, mas foi induzido a aprender para pintar o tecto da capela, segundo um dado método de polvilhamento, e pasme-se, o grande Miguel Ângelo, que detestava o secretário do papa, lá colocou a sua cara numa alma penada nos infernos, no canto inferior esquerdo da pintura, e para maior punição daquele personagem, para si hostil, colocou-lhe uma serpente na cintura. Genial e grande Miguel Ângelo, só por isto valeu a pena ir a Roma para homenagear este grande e emotivo artista. Se soubesse, quanta gente pintava no Inferno com serpentes, desde os salazares, aos pinochet's, mas sobretudo os hipócritas e cínicos de hoje que ainda se dizem pais da democracia e amigos do povo, dos plebeus, quando os traíram vergonhosamente, ou os sangram.


Para além disto Roma é o Coliseu, o monumento o Altar da Pátria, o Forum romano, onde, Júlio César, um ditador, foi assassinado, os ditadores e as ditaduras um dia acabam, tão certo é, que o escribas do jornal do Comércio, o diziam em 1972/73, sem se aperceberem que viviam numa ditadura, o que, é hoje comum a muitos portugueses sujeitos a verdadeiras ditaduras dentro das suas organizações de pertença, e de nada se apercebem. Como é bom ser cego!


Mas Roma também é o Panteão, e muitas praças com os seus obeliscos a publicitarem cada vez mais a expansão do poder papal, depois da conversão do imperador Constantino IV ao catolicismo.


Roma de facto foi a capital de um império, mas pelo menos mais honesta que a Grécia na pintura dos feios e dos aleijados. Na Grécia só se pintavam Vénus e David, em Roma, também um feio poderia ser pintado, e Roma continua a ser a capital do Império religioso Católico.


Em Roma também impressiona os milhares e milhares de turistas que enchem aquelas ruas e que pagam 2 € por cada noite que lá passam até o máximo de 10, para a conservação daquele património, e as viaturas pesadas cerca de 150€/ dia. Medidas de sábia gestão que se não forem para os padrinhos é justo e adequado.


Nesta viagem fui na companhia de 104 portugueses do Norte e de cá do Sul, até Setúbal, gente toda com mais de 50 anos, de diversos estratos sociais, mas a maioria plebeus, o 3º estado, a que também me honro de pertencer por questão de nascimento e de opção, mas como gostaria de ver tanto burguês que fala do povo-plebeu, posto anonimamente no meio das gentes num sel-service, ao pequeno almoço, com todas as máquinas de café, leite e sumos avariadas, numa confusão e empurrões e encontrões com as sandes a saírem dos tabuleiros e a caírem no chão. Como gostaria de ver esses hipócritas nestas cenas, que sempre que se deslocam, para os lugares onde está o povo anunciam o sua chegada e percorrem todos os espaços sobre tapetes, para não sujarem os seus sapatinhos.


Durante a viagem soube-se na quarta-feira da queda do Governo. Muito poucos lamentaram essa mais que esperada queda, poucos a festejaram, mas muitos sentiram-se aliviados, porque associam a Sócrates uma imagem muito pesada de falta de credibilidade e os PEC, ficou estabelecida a ideia que os PEC jamais teriam fim, com Sócrates.


Todavia para além dos poucos fervorosos adeptos de Sócrates e de Passos Coelho, o que mais se sentia era por parte de muitos indiferença e de outros a convicção que tudo vai ser pior, mais grave, independentemente da alternância no poder. Sente-se este peso da falta de alternativa que, como era esperado, de acordo com as leis sociológicas da regularidade, se começam a desenhar, e que escrevi no meu último texto.


Senti a amizade e a simplicidade destas pessoas e a tristeza profunda materializada num velhote de 82 anos, em que a mulher companheira de todos os momentos e destas andanças morreu há 3 meses. Choro a sua dor e fiquei muito impressionado com a sua tristeza.


Foi bom ter vivido estes dias, por sinal de bom tempo, agora regresso e estamos num inverno total, como em 1975, em 1973, em 1926, ou em 1910. O cinismo, a mentira, a luta entre galos, os ditadores residuais, o salazarismo das organizações e do estado, vão matar a liberdade, Abril e, sobretudo o POVO.


andrade da silva


PS: Que pena que tão poucos leiam estes textos e pior os oiçam, mas infelizmente por se passar ao lado de tanta coisa e ouvirem e acreditarem nos mesmos maus líderes, de erro em erro, iremos parar aos infernos, e já não faltará assim tanto.

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