sábado, 26 de fevereiro de 2011

1982 - Recordando


Há tempos lindos nas nossas vidas, 1982 foi um ano bom. Depois de dois anos de prisão por não me ter deixado matar pelo gang "os diabos à solta" no Funchal; depois de 6 anos de julgamento no conselho superior de disciplina do Exército, por causa do 25 de Novembro 1975 que só conheci pela imprensa, e na ponta final intervim, recusando-me a chefiar um grupo de cidadãos que queriam marchar sobre Lisboa, a partir do Alentejo, sacrificando-se para salvarem o que tinham como a sua revolução; mas também por ter detido à ordem do Copcon em 13 de Março 1975 o Latifundiário Sr.Vacas Nunes, acusado de ser responsável pela morte de um trabalhador nos anos de 50 e que centenas de populares de Montemor-o-Novo, naquela noite, queriam ajustar essas velhas contas, e, eu defendi-o; também por me acusarem de ter feito ocupações selvagens, como a título de exemplo era referido o Hotel Planície de Évora; ter chamado de fascista a latifundiários; ter incitado, segundo o rol de acusações, os trabalhadores, em Coruche, a se apropriarem dos bens dos latifundiários, quando não lhes pagassem os vencimentos, como o atestava o feitor do latifundiário Sr.Veiga Teixeira que antes oferecera uma caixa de pêssegos à minha secção do MFA, pelo modo como o atendi num diferendo com outro latifundiário o Sr. Infante da Câmara etc etc, regressei à vida militar, prestando serviço na Direcção da Arma de Artilharia.


Era o meu regresso às origens e, entretanto, também no curso de sociologia no ISCTE ( Instituto Superior Trabalho e Empresa), porque nunca fiz de morto, travei uma forte discussão com o professor da cadeira de Sociologia do desenvolvimento, acerca dos processos de socialização que esquecem o verdadeiro homem, e procuram cuidar do seu duplo, que é o que sai do armário e anda pelas nossas ruas.

Foi uma luta tremenda de que me orgulho, e para esta aventura arrastei a minha colega Lídia. Lá com a intervenção do catedrático nos desenrascamos, mas escrevi uma violenta carta ao professor, denunciando a terrível tacanhez do ensino universitário em Portugal. Tenho o trabalho e a respectiva carta, perdi na memória o nome do professor. Contudo num destes últimos anos com o filme "os duplos", vi esta problemática retomada, nos precisos termos em que a tinha abordado em 1982.


Também foi uma bom ano por causa das viagens e dos sonhos. Em dada altura sonho que vou fazer uma viagem por barco com a minha colega Lídia, no sonho a viagem corre muito mal. Não fiz a viagem com ela, mas o sonho foi premonitório. Em Junho depois de já ter as minhas férias marcadas para Madeira, sou desafiado por uma amiga, para ir com ela e outra sua conhecida até Itália. Logo começo a tratar de conseguir mais uns dias de férias, tive sucesso nesta diligência, e parto para Espanha, França, Suíça, Itália.


Em Espanha passo por Burgos, onde, visito um amigo. França desde Biarritz, Limoges, Liége, Clermont Ferrand, onde, comemos um gelado que nos custou os olhos da cara, tudo foi maravilhoso, o mesmo na Suíça, aqui, descobrimos as mini doses de 100g das coisas caras, o que depois quis adoptar em Portugal, pedindo a um empregado, numa pastelaria, a Minabela da Reboleira, 100g de ameixas verdes de Elvas, ao que o homem não resistiu em informar-me que seriam uma ou duas, retorqui-lhe, para seu espanto, que era isso mesmo que queria, porque ia só para provar. Adorei Génova e os lagos suíços.


Entramos finalmente em Itália, logo em Milão assistimos a uma cena do agarra que é ladrão, lá fugia um tipo qualquer com objectos roubados. Em Itália recebi milhares de liras que logo se evaporavam, dormimos, por falta de lugares nos parques de campismo, por onde calhou, com algum risco e receio, porque era o tempo das brigadas vermelhas e de polícias que primeiro disparavam, e depois pediam a identificação.


Itália com os seus museus, a sua beleza, a sua arte e música nas ruas e as poucas pisa que comemos em restaurantes e as belas cidade de Verona, Ravena, Veneza com os seus canais, Florença, Pisa foi, é, um Olimpo, onde, tudo, então, se pagava até a utilização das casas de banho nos restaurantes.


Por tudo isto aquele sonho foi premonitório, mas também pelas pesadas discussões que tive com a colega da minha amiga Dete, que então, como hoje, continua a viver em Santo Tirso, linda Terra.


Mas aquela nossa companheira conduzia tão mal que nas curvas dos Alpes o automóvel ficava atravessado, e ela dizia que era por causa da estrada, e eu, que seguia no lugar o morto, lá lhe referia que o carro tinha um volante, uma caixa de velocidades e um pedal para o conduzir; outras vezes só íamos com erro de 180º na direcção, e tudo agravado ainda pelo facto dela só querer contemplar as obras de arte e nós também as cidades e as gentes. Tudo somado foi uma confusão entre mim e ela, a que impotente assistia a minha querida amiga, chorando. Nunca mais falei com aquela colega da minha amiga, nem sequer fiz sobre si qualquer pergunta, agora, que falo disto, um dia destes pergunto, sobre como tem passado.


Ainda fui à Madeira. 1982 foi um lindo ano. Também acontecem lindos anos que ora se repetem ou não. Mantenho viva a memória deste 1982 que mais moderadamente lá se vai repetindo, agora em excursões colectivas de seniores.


andrade da silva

3 comentários:

Marília Gonçalves disse...

o seu amor por Portugal e pelo povo português não tem discussão, penso mesmo que para evitar o sofrimento popular você se preciso fosse daria a vida!
é dessa generosidade que precisa o povo da Líbia, oiça o que pensou, qual foi a sua opinião, aquando da coaliçao da primeira guerra no Iraque? é que se foi a favor, ninguém o pode demover da sua
e é pena, porque estamos a falar de todo um povo, com crianças, jovens, idosos, enfim gente a querer viver! assassinar um povo, para castigar um louco, parece-me francamente excessivo!
abraço
Marilia

Marília Gonçalves disse...

Sou negra hindu pele vermelha
árabe, persa asiática
morena, branca, amarela,
sou incolor, aquática...
Sou rude como montanha
sou macia como arminho
tomo qualquer forma estranha
de cada irmão que adivinho
Sou feita de ar e de sol
de luz, de sangue de vento,
tenho a voz dum rouxinol
a soltar-me o pensamento.
Sou mistura conseguida
do humano universal
fecundo fruto da vida
porque a vida é natural.

Marília Gonçalves

andrade da silva disse...

Marília

Sobre as suas dúvidas vou fazer um post pois a Líbia. Egipto, Tunísia e Iraque não são a mesma coisa.

Há um conjunto de deduções suas menos correctas, isto é, mesmo erradas, quanto ao que digo. Em primeiro lugar falo de ONU e TPI, depois de renovação da ONU e não que os EUA sejam, possam ou devam ser os embaixadores da democracia e da liberdade, de modo algum, até porque muitos dos seus dirigentes deveriam ser submetidos ao TPI.

Estaria disposto a fazer o meu melhor para salvar todas as vidas que são ceifadas por todos estes criminosos, desde a morte do Casquinha do Escoural ao do bébe que agora mesmo acaba de levar com uma bala perdida algures.

Todas as vidas têm um significado, e agora neste momento quem na LIBIA está a matar jovens LIBIOS NÂO SÂO OS AMERICANOS SÂO LIBIOS E MERCENÁRIOS À ORDEM DE KADHAFI e A SUA FAMILIA A POLICIA SECRETA É COMANDADA POR UM FILHO, AS TELCOMUNICAÇÕES POR OUTRO E A BRIGADA DE DEFESA DO DITADOR por OUTRO. É disto que é preciso tratar agora, não pode haver cínicos jogos ideológicos.

De qualquer modo o caso do Iraque, aquando da 2ª guerra é uma invasão ILEGAL, CONDENÁVEL, INACEITÀVEL que também foi apoiada pelo Sr. Durão Barroso. É preciso não baralhar as coisas, os crimes contra a humanidade, são crimes contra a humanidade, e a minha posição foi desde sempre de total e irrefutável condenação quer pela invasão em si, quer pela condução da guerra e sobretudo do dia seguinte. Nenhuma dúvida, ponto.
abraço
asilva