quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ai Portugal, por tua Voz (eu dava a vida! )



Ai Portugal, por tua Voz
  
PORTUGAL: Atrás dos dias, vai o vento levar desgrenhados pensamentos, além de sombras e da angústia, no eco fiquei eu, a ver se percebia por onde caminhar sem atropelos, na auto-estrada nova, com o trânsito dos acontecimentos a perturbar a imaginação, que não pedia mais, que o desanuviamento a permitir passagem, mas não, isso mesmo parecia ser já pedido à porta do exagero, que exagerados somos todos quando nos referimos à dor própria, pelo menos é como tal que os outros nos percebem, e nós quando os ouvimos a eles, imponderáveis ante a mágoa alheia, nós aparentemente tão aptos a tudo entender e que nos horripilamos dos outros serem tão pouco, quando nós sim senhor, somos tanto, somos tudo, além das previsões da natureza, nós que nos assombramos pela estupidez mesquinha que nos rodeia e aflige, nós tão inteligentes, a vermos fugir-nos vida a cada hora, e que sabemos sempre tanto cada vez mais tudo, senão é ver como está tudo mudando, progredindo graças ao eu que sou, maravilha conseguida, sim senhor que já lá dizia a minha mãe, nunca a terra viu ninguém com tais capacidades, é por isso que me espanto, porque não sabem reconhecer-me o mérito, ai Jesus que se apaga a luz, apaga-se sim senhor, no dia em que deus me chame a ele, que aí é que vão ser elas, lá fica o mundo a perder este todo que eu sou, mas sempre é bem feito, enquanto por aqui ando fazem por me ignorar, não aproveitam, como dizia a minha avózinha, dá deus nozes a quem não tem dentes, ou então andam-me para aí todos com dentadura postiça que é como se dentes não tivessem, a não ser na aparência, e depois hão-de ver como elas lhes mordem, sim senhor, sempre é grande desperdício andar aqui uma pessoa tão de boas intenções e nada, ignoram-lhe o valor, que até parece tratar-se de coisa de somenos, ora vejam lá bem, só as gerações do futuro hão-de lastimar este desperdiçar do meu valor, esses sim que vão perceber bem quem eu era, do que tinha sido capaz, assim por aqui me quedo, nesta certeza que tenho de me não enganar nunca, como seria possível? às portas da luz me achando como me acho, às vezes dou comigo neste mar de aflição, tanto queria fazer aproveitar os outros da minha dádiva, mas eles não querem, coitados, tenham paciência...




(a ironia é uma arma?)

Marília Gonçalves (Poeta del Mundo)

Sem comentários: