sexta-feira, 25 de junho de 2010

TÃO CEDO PARTIRAM DESTA VIDA


LÁGRIMA
"A vós mães e pais, convosco, por vós e pelos vossos filhos, choro a cruel morte"

Amo a vida, e a vida que aos outros é dado viver. Sofro a dor dos desamados, pobres famintos e abandonados. Choro o seu presente e provir, penso nas dificuldades que terão em amar a vida, mas, mesmo assim, admito que poderão amá-la mais que que eu, por serem gente extraordinária.

Amo o meu filho, porque sou seu pai, e não por ele ser feito à nossa imagem e semelhança: da mãe e minha. Nós só ajudamos no seu crescimento, mas ele formou-se por si. Sentimos muito orgulho por se ter formado na base dos valores que julgamos serem os melhores para a pessoa e a humanidade, muito embora, os sucessos sociais de muitos desmintam as nossas convicções. Mas que fazer?..

Amando o meu filho, sinto e vivo o amor e as dores de todos os pais e de todas as mães, de todas as partes do mundo. As dores dos que não podem dar o mínimo aos seus filhos, mas também daqueles que tudo fizeram para lhes dar o melhor, e eles, tão cedo desta vida partiram. Eram ainda tão jovens, quando um acidente de automóvel, nos nossos países, ou, as guerras fratricidas, nos países pobres, os levou. Uma dor. Choro.

Há uns meses, por e-mail, soube da morte de uma jovem filha de amigos comuns. Não conhecia a menina - ainda era uma menina, nos seus vinte e poucos anos- e a descrição dos seus actos generosos fez-me gostar tanto dela.

Também não conhecia os pais, mas sendo pais de tão bela menina, só poderiam ser bondosos e generosos. Escrevi-lhes não palavras de circunstância, mas palavras de um outro pai, para uma mãe e um pai a viverem a experiência mais dolorosa que é dado viver a um ser Humano- a perda de um filho.

Ontem, no dia de São João, conheci-os. Foi um grande momento. São uns pais e pessoas maravilhosas, vão vivendo a sua dor, mas atenuando-a, dando amor a quem e às coisas que a sua filha gostaria que fossem amadas.

Espero que com o seu grande humanismo, sabedoria e amor consigam ser, por amor à sua filha, muito felizes no dia de amanhã.

Foi também muito bom tê-los encontrado para os conhecer. Sou amigo deles, e também foi muito bom saber que as palavras de pai que lhes dirigi foram sentidas por eles.

Chorei a partida da sua filha, mas ontem também uma lágrima de dor salgada voltou a cair dos meus olhos à terra, pela morte de uma dezena de jovens em Barcelona, cidade que amo pela sua beleza, mas que agora fica, para todo sempre, associada e perturbada por esta grande tragédia, para aqueles infortunados jovens e para os seus pais.

Interrogo-me, mas não há mesmo nada a fazer, para evitar tanta e tão malfadadas mortes?

andrade da silva

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