sábado, 20 de março de 2010

MULHER,SIMPLESMENTE MULHER

Inverno 2010 no Funchal: A deusa em fúria.


Gabriela

Uma estrela, todas a Estrelas do Firmamento.

“Gabriela ama o movimento do corpo ama os homens que gosta de amar” (António Murteira 2010).

Gabriela Divina, eterna.



VadiusKa

“Vadiuska tinha amantes nas cidades africanas do indico
era o tempo da última guerra colonial” ( idem)

Vadiuska mulher dos meus sonhos da guerra. Queridas vadiuskas. Sonhei sem pecado, puro, ingénuo. Era ainda um rapaz, muito, muito jovem, a defender a vida de 150 homens, filhos de outras mulheres, almas gémeas da minha mãe na dor e na angústia do momento que se pode seguir ao do sopro de vida, que me permitia sonhar com vadiuska, sem nunca ter tido tempo, ou espaço para a amar.

A minha guerra foi toda no chamado mato. Em Lumbala só o rio nos servia de companhia, e a amada, diziam, que era a canhota ( a arma), dormia ali connosco, bem perto, ou na mesma cama/esteira, por vezes, quando nos chateávamos de pu.., a chamávamos.

Era a guerra em África… querida Angola, querida África, como te amei: a liberdade, a informalidade e todos os rios de libido, de que a guerra me privou, e eu… as minhas paixões, os meus desejos, o meu fogo que ardia e me consumia… Camões e a sua poética…


Mulher, simplesmente Mulher

Todavia também para mim se Deus houvesse, seria uma Deusa, como o canta António Murteira e o vidente da Madeira que às 0h do dia 1 de Janeiro de 2010 me disse, que, segundo o Céu lhe mostrou, Deus não era Deus, era uma Deusa esplendorosa, uma Diana, uma Vénus, uma Maria, uma Ângela – quanto te amei, apesar da diferença do tamanho das tuas pernas, mas a tua cara e a tua bondade eram toda a beleza do Mundo, Ângela – mas e sempre, e, sobretudo, uma mulher, simplesmente mulher:

“ o feminino marca a nossa existência no que tem de mais singular e belo as estrelas a natureza a água a terra a luz a árvore as flores a mãe a amante a amada a paixão a solidariedade a cidade a aldeia a casa a pureza a ideia mítica da pureza

por isso digo: se tivesse de haver um deus ou uma deusa essa seria a deusa água a amante da deusa terra aquela que a ama e fecunda” (idem)

Sempre também amei a água azul do oceano Atlântico que banha a Madeira, e sempre invejei aquela água que noite e dia fecundava, sem falsos tabus, a terra, ali mesmo, à vista de todo o mundo, e ora brandamente, ora de um modo selvagem, como neste inverno de 2010.

Tudo devo à mulher, a vida, o carinho, a heroicidade, à minha mãe, agora, vencida pelo Alzheimer, mas não convencida, luta, luta, sempre a lutar, não se rende, à mãe do meu filho, este filho que me diz que me escolheria sempre como pai, e eu, a ele, como filho e a todas as amigas devo tanto, tanto, que, por muitas vidas que tivesse, as amaria sempre, sempre, sem reservas… este é o meu fado, fado de quem se definiu um dia e, em definitivo, como vento, e o vento ninguém o prende, nem o vento sequer é seu. O vento é do vento, do Mundo, dos anti-ciclones…. Mas tudo isto é quase-poesia, utopia…

Mulher, simplesmente mulher, a minha Deusa, se Deus ou Deusa houver
.


andrade da silva


Nota: António Murteira : “ Até Amanhã em laetoli no Alentejo numa Lua”. Edições Colibri, lançado na casa do Alentejo, em 20 de Março de 2010.

Dedicatória do autor: Para o Andrade da Silva, companheiro muito estimado de combates pela liberdade com amizade A. Murteira.
Recebe também o meu abraço.

4 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Mulher de força e vontade

venho trazer-te um poema

levas nas mãos a saudade

da vida que em ti serena

onde vives e trabalhas

renasce a força do dia

minha irmã que de tão longe

me acenas em poesia

falas de ti do teu povo

por dentro do teu olhar

e crias um mundo novo

só porque sabes sonhar

vais a caminho de ti

a caminho do futuro

e se teu gesto sorri

em calor fraterno e puro

é que soubeste da história

a verdade que te vê

e elevas a memória

aonde vai teu porquê

trabalha luta levanta

em teu braço triunfal

no teu país que te espanta

nessa promessa que encanta

a filha de Portugal



Marília Gonçalves

Marília Gonçalves disse...

ora até que enfim, estamos de acordo no que toca a mulher pelo menos quanto à Gabriela e talvez mesmo as outras de que fala, aqui estas mulheres não são o objecto, mas sujeito, é sim porque assim o querem, isso é a Liberdade, o que sou inteiramente é contra que se coisifique a Mulher, fazendo dela um ser sem vontade própria
Bem também o seu sentido da responsabilidade e o lembrar-se que as mães, sejam de quem forem sentem sempre o mesmo amor por seus filhos, elas que sabem tão bem a fragilidade da vida e que um segundo basta de inadvertência... quanto mais em guerra
e quanto a ser vento, oh Capitão sopre longe da Terra, estamos saturados todos de catástrofes, se agora também vem o companheiro armar em ciclone ou tornado...
Longe sopre longe... a Terra e os povos precisam de descanso
abraço amigo
Marília

Marília Gonçalves disse...

Companheiro Amigo

as mulheres que descreve no seu texto, fizeram-me de imediato pensar na Carmen de Bizet
a mulher livre por excelência, aqui é ela quem domina a situação, volúvel, até à destruição de um homem que tinha amado, porque encontrou outro que no momento lhe pareceu mais garboso
aqui ficam os versos onde se pode apreciar o espírito livre que se lhe conhece
para Carmen não há peias, apenas sua vontade conta e manda, a sua e a de mais ninguém.
Aqui a caçadora é ela, dona de si própria até às últimas consequências

Marilia

La Habanera

L'amour est un oiseau rebelle
que nul ne peut apprivoiser,
et c'est bien en vain qu'on l'appelle,
s'il lui convient de refuser!
Rien n'y fait, menace ou prière,
l'un parle bien, l'autre se tait;
et c'est l'autre que je préfère,
il n'a rien dit, mais il me plaît.

/ Choeur des cigarières et jeunes gens (SATT)
| L'amour est un oiseau rebelle
| que nul ne peut apprivoiser,
| et c'est bien en vain qu'on l'appelle,
| s'il lui convient de refuser!
| Carmen
\ L'amour! l'amour! l'amour! l'amour!

Carmen
L'amour est enfant de Bohême,
il n'a jamais, jamais connu de loi,
si tu ne m'aimes pas, je t'aime,
si je t'aime, prends garde à toi!
Choeur (cigarières, jeunes gens et soldats) (SATB)
Prends garde à toi!
Carmen
Si tu ne m'aimes pas,
si tu ne m'aimes pas, je t'aime!
Choeur (SATB)
Prends garde à toi!
Carmen
Mais si je t'aime,
si je t'aime, prends garde à toi!
/ Cigarières et jeunes gens (SAT)
| L'amour est enfant de Bohême,
| il n'a jamais, jamais connu de loi,
| si tu ne m'aimes pas, je t'aime,
| si je t'aime, prends garde à toi!
| Jeunes gens et soldats (TB)
\ L'amour est enfant de Bohême!
Choeur (SATB)
Prends garde à toi!
Carmen
Si tu ne m'aimes pas,
si tu ne m'aimes pas, je t'aime!
Choeur (SATB)
Prends garde à toi!
Carmen
Mais si je t'aime,
/ si je t'aime, prends garde à toi!
| Choeur (SATBB)
\ à toi!

Carmen
L'oiseau que tu croyais surprendre
battit de l'aile et s'envola;
l'amour est loin, tu peux l'attendre,
tu ne l'attends plus, il est là.
Tout autour de toi, vite, vite,
il vient, s'en va, puis il revient;
tu crois le tenir, il t'évite,
tu crois l'éviter, il te tient!
[Note 10]

/ Cigarières et jeunes gens (SATT)
| Tout autour de toi, vite, vite,
| il vient, s'en va, puis il revient;
| tu crois le tenir, il t'évite,
| tu crois l'éviter, il te tient!
| Carmen
\ l'amour! l'amour! l'amour! l'amour!

Carmen
L'amour est enfant de Bohême,
il n'a jamais, jamais connu de loi,
si tu ne m'aimes pas, je t'aime,
si je t'aime, prends garde à toi!
Choeur (cigarières, jeunes gens et soldats) (SATB)
Prends garde à toi!
Carmen
Si tu ne m'aimes pas,
si tu ne m'aimes pas, je t'aime!
Choeur (SATB)
Prends garde à toi!
Carmen
Mais si je t'aime,
si je t'aime, prends garde à toi!
/ Cigarières et jeunes gens (SAT)
| L'amour est enfant de Bohême,
| il n'a jamais, jamais connu de loi,
| si tu ne m'aimes pas, je t'aime,
| si je t'aime, prends garde à toi!
| Jeunes gens et soldats (TB)
\ L'amour est enfant de Bohême!
Choeur (SATB)
Prends garde à toi!
Carmen
Si tu ne m'aimes pas,
si tu ne m'aimes pas, je t'aime!
Choeur (SATB)
Prends garde à toi!
Carmen
Mais si je t'aime,
/ si je t'aime, prends garde à toi!
| Choeur (SATBB)
\ à toi!

só planície disse...

ainda não tenho o prazer de conhecer o novo livro do antónio murteira. mas gostei das palavras do capitão. e as de marília também. muito conhecedoras e poéticas, como sempre. abraço os dois