domingo, 31 de janeiro de 2010

HOMEM SEM AVESSO.


"AOS SARGENTOS DO 31 DE JANERIO DE 1891, HOMENS DE CARÁCTER E SEM AVESSO, QUE FORAM ABANDONADOS PELOS QUE CONCEBEM AS REVOLUÇÕES, MAS NUNCA ARRISCAM, COMO SEMPRE TEM SIDO.

A CARNE PARA CANHÂO, DEPOIS DE FEITAS AS SALSICHAS PARA MAIS NADA SERVE E SOMENTE DEVE COMPORTAR-SE COMO OS SAPATEIROS ENTREGAR A OBRA AOS SENHORES PARA QUE ELES A ESTRAGUEM, COMO SE DE SEUS SAPATOS SE TRATASSE”



Quis um leitor virtuoso deste blog colocar um belo poema de Sidónio Muralha, como comentário ao post sobre e o novo pobre de Portugal, Belmiro de Azevedo, diz o poeta:

Os Homens não têm Avesso. Assim seria, se homens de coluna vertebral existissem, mas o que mais há, são nobres, burgueses e plebeus sarrafeiros, poucos homens existem prontos a pagar o preço de terem carácter. Preço que é muito alto, e somente os plebeus virtuosos e muito raros, burgueses que conhecem a luminosidade e o virtuosismo, se dispõem a tão dura provação. A vida das vielas, do alecrim, da manjerona e do tinto é bem mais apetecível e prazenteira.

Todavia, neste momento, nada mais acontece que a chinização do Mundo. Não há nem República, nem monarquia, nem democracia, nem social-democracia, mas somente lenta e silenciosamente se processa a chinização do Mundo, uma forma de terrorismo subterrâneo que alienadamente todos aceitam.

Perturbador, cruel, mas verdadeiro, levará algumas décadas, mas se nada for feito pelos plebeus virtuosos, dentro de uns longos, ou mais escassos anos a escravatura científica, tecnológica, ideológica e policial dominará por completo, as formigas que são a maioria de nós.

Hoje a China é o Sol de todos os ditadores, e dos democratas do faz-de - conta, mas também pode ser o cemitério desta Europa, através da Bomba Atómica demográfica, propagando ainda mais os vírus, do que o lixo de que se alimentam os plebeus que sonham ser, ou ter tanta porcaria, quanto o pobre do Sr. Belmiro de Azevedo.

Caminhamos para a Idade Média dos tempos pós-modernos, e toda esta gente vai para a morte desta civilização social-democrata, com a mesma inconsciência que os judeus, os homossexuais e outros “subseres”, no alto conceito desse grande louco da História, Hitler, se dirigiam para os altos-fornos.

Pouco mudou, as formigas não têm tempo para pensar, e as vozes chãs não lhes chegam, morrem, como o ladrar dos cães rafeiros, nos quintais exíguos e desertos, e os donos das gentes sabem disto, por isso, se riem destas atitudes ridículas, no que são acompanhados por bem pensantes patetas que se julgam gente nesta matriz diabólica, mas também não o serão, serão meros servos com alguns graus de liberdade, ilusão que os leva a desejarem o silêncio das vozes desalinhadas, falta-lhes também o carácter.

E eis a segunda questão do poema, para não ser homem do avesso é preciso ter carácter, o que implica um alto preço a pagar, e é exactamente este preço que é de sangue, sofrimento psicológico, banimento social que poucos querem pagar e, para, a tal fatalidade fugirem, lá vão, em todas as mercearias, shoping’s, capelas e catedrais, vendendo a sua alma a quem mais migalhas lhes puder dar, para se safarem.

Talvez o consigam, mas seria bom que perguntassem que sociedade, que tipo de vida vão deixar, como herança aos seus filhos e netos, talvez que esta visão os envergonhasse, e os levasse a mudar de rumo. Mas quem quer se maçar com coisas tais, se para chatices já basta o quotidiano de escravo, e, ou de mentecapto a que a pré-chinização já vai obrigando.

Por aqui não passam as profecias do fim do mundo, nem de Bandarra, nem de Nostradamus, por aqui, somente passam os ventos frios que indicam tempestades, graves e duras, e os estudos que referem que desde há 4anos consecutivos a democracia regride no Mundo, apesar dos critérios muito largos destas observações que, naturalmente, consideram os EUA, como o país paradigmático da Democracia, que, entretanto, melhorou o seu discurso, através do Presidente Obama.

Mas também esta visão cruza-se com realidades mais comuns, como a privatização de algumas ruas em Londres, que se diz uma city de gente esclarecida, mas que lá se vai submetendo a estas trágicas conquistas do privado sobre o público. Por ora, as ruas ainda estão abertas e permitem carreiros às formigas, desde que não comam pelos cantos, não tirem fotos, e claro está, não desobedeçam aos seguranças civis. E estamos na Inglaterra.

Mas ainda tem também a ver com os 500 ou 600 mil desempregados, com os 27% da população portuguesa com mais de 65 anos, com o aperto que vem aí para 2011 e anos seguintes com a redução do défice de 8.3 para os 6 ou 5, até aos 3% e com o anunciado ganho de centenas de milhões de euros no campo das pensões. Parece que só resta pôr as pessoas a trabalharem, por mais penoso que as tarefas possam ser, até à hora da morte, independentemente, das condições de saúde.

O único factor que pode dar alguma capacidade de manobra às formigas é o facto do Elefante não ter todo o poder para nos esmagar, ou submeter pelo medo, como José Gil referia, quando os professores já exangues, por falta de qualquer resultado das suas manifestações se submetiam, e se venceram nas suas lutas actuais, foi exclusivamente, porque o Povo português ainda pôde alterar a correlação de forças na área do poder. Mas esta inteligência do povo, pode ser subvertida, como desde sempre e, nomeadamente, nestes 100 anos de República ignominiosamente o tem sido, e resta saber, agora, com que consequências.

31 Janeiro 2010, 119 anos depois do 31 de Janeiro de 1891.

andrade da silva

8 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Vai-te, Poesia!

Deixa-me ver a vida
exacta e intolerável
neste planeta feito de carne humana a chorar
onde um anjo me arrasta todas as noites para casa pelos cabelos
com bandeiras de lume nos olhos,
para fabricar sonhos
carregados de dinamite de lágrimas.

Vai-te, Poesia!

Não quero cantar.
Quero gritar!

José Gomes Ferreira

Marília Gonçalves disse...

Choro!

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
as crianças violadas
nos muros da noite
úmidos de carne lívida
onde as rosas se desgrenham
para os cabelos dos charcos.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
diante desta mulher que ri
com um sol de soluços na boca
— no exílio dos Rumos Decepados.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
este seqüestro de ir buscar cadáveres
ao peso dos poços
— onde já nem sequer há lodo
para as estrelas descerem
arrependidas de céu.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
a coragem do último sorriso
para o rosto bem-amado
naquela Noite dos Muros a erguerem-se nos olhos
com as mãos ainda à procura do eterno
na carne de despir,
suada de ilusão.

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
todas as humilhações das mulheres de joelhos nos tapetes da súplica
todos os vagabundos caídos ao luar onde o sol para atirar camélias
todas as prostitutas esbofeteadas pelos esqueleto de repente dos espelhos
todas as horas-da-morte nos casebres em que as aranhas tecem vestidos para o sopro do
silêncio
todas as crianças com cães batidos no crispar das bocas sujas
de miséria...

Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro...

Mas não por mim, ouviram?
Eu não preciso de lágrimas!
Eu não quero lágrimas!

Levanto-me e proíbo as estrelas de fingir que choram por mim!

Deixem-me para aqui, seco,
senhor de insônias e de cardos,
neste òdio enternecido
de chorar em segredo pelos outros
à espera daquele Dia
em que o meu coração
estoire de amor a Terra
com as lágrimas públicas de pedra incendiada
a correrem-me nas faces
— num arrepio de Primavera
e de Catástrofe!

José Gomes Ferreira

Marília Gonçalves disse...

Capitalismo uma História de Amor
de
Michael Moore


O filme documentário a não perder
porque nos põe frente a frente com a realidade capitalista
e com a nossa consciência cidadã
No dia em que quem vota, votar por si, pelo candidato, próximo de seus interesses de trabalhador, a causa estará ganha.
Mas enquanto as pessoas andam a pensar que é possível enriquecer, sem perceber que a pobreza não é uma fatalidade mas sim o alimento indispensável ao sistema capitalista, e que não há ricos sem muitos e muitos pobres,não poderemos senão constatar o certificado de burrice que passamos a nós mesmos!
No entanto a militância activa e esforçada de Michael Moore merece o maior respeito pela veracidade e coragem com que nos apresenta neste filme documentário a Sociedade americana e o seu desumano poder.
Vão ver o filme, se puderem, mesmo longe vão vê-lo.
é uma venda a arrancar de nossa visão!
Para que uma nesga de sol nasça para o Mundo
Marília Gonçalves

Jerónimo Sardinha disse...

Meu Caro Andrade da Silva,

É bom lembrar que antes de nós e noutras circunstâncias, existiram homens preocupados com os seus concidadãos, e dispostos a tudo arriscar para tirar o País do atoleiro.

Os Sargentos e alguns Oficiais de baixa patente, foram sem dúvida, a charneira de uma contestação a que se associaram homens como Alves da Veiga, hoje tão esquecidos.
É óbvio, que na sua ingenuidade todos eles pagaram caro o "atrevimento", mas sem dúvida deram corpo e forma ao que poucos anos depois seria o 5 de Outubro, onde outros da mesma estirpe e com a mesma determinação se bateriam e levariam de vencida a ideia de fazer evoluir Portugal.
Também pagaram o atrevimento. Desta vez pela mão dos seus próprios pares.

Bela evocação de homens com coluna vertebral.

Abraço Fraterno,
Jerónimo Sardinha

Anónimo disse...

" Quis um leitor virtuoso deste blog colocar um belo poema de Sidónio Muralha, como comentário ao post sobre e o novo pobre de Portugal, Belmiro de Azevedo"


sobre o Belmiro de Azevedo, não! contra o Belmiro de Azevedo

é bom saber interpretar o que se lê

andrade da silva disse...

COMENTAR BELMIRO DE AZEVEDO NÂO É ESCREVER CONTRA ELE, NEM SOBRE ELE,É COMENTAR.

O post não é a favor ou contra Belmiro de Azevedo, é sim um comentário à sua entrevista, no que contem de cinismo, claro na minha opinião, e uma critica clara à orientação dos seus investimentos que tornam Portugal mais ainda num entreposto comercial, com mas endevidamento externo, e cria postos de trabalho maioritariamente de baixa qualificação e mal remunerados.

Todavia reconheço algumas virtudes a Belmiro de Azevedo, como a de permitir o acesso aos plebeus a espaços que sem ele estariam vedado aos plebeus, como ainda lhe reconheço mérito quando apoia projectos de interesse publico nos quais votei e divulguei a marca sonae.

De facto é preciso ler tudo, compreender o que se lê, e ver o texto na sua complexidade e já agora no seu quê de humor. Há critica e louvor, mas não é um texto contra Belmiro de Azevedo, para mim seria muito difícil fazer um texto de chapa 1 contra Belmiro de Azevedo, pela muita consideração que tenho por quem tem coragem. Mas obviamente que não é um artigo de exalação,porque a entrevista é cinica, mas muito longe do cinismo e da crueldade de outros empresários burgueses que vão à TV, como é o caso do sr. Bruno Bobone.

Uma leitura menos superficial permitiria ver todas estas diferenças, que são MUITO SIGNIFICATIVAS.

asilva

andrade da silva disse...

RECTIFICAÇÂO

No contexto deste diálogo, natruralmente que quis dizer que o meu texto não era de exaltação a Belmiro de Azevedo e não de exalação, como por gralha saiu, mas a rica e complicada língua portuguesa tem destas coisas, a que o computador muito ajuda, neste caso, mesmo se o corrector automático tivesse sido acionado ( nova ortografia).
asilva

Anónimo disse...

LAPSUS!