quarta-feira, 17 de junho de 2009

SERÁ CHANTAGEM?


Nota: Apesar do facto já estar fora da agenda, a sua análise, sobretudo feita nos termos silogisticos que o autor faz, é e será sempre actual, por isto, damos à estampa tão interessante e curioso raciocinio.

Fantástico! Dezasseis anos após a primeira declaração em que Jaime Gama classificava de Bokassa a Alberto J. Jardim (AJJ)[1], ei-lo a considerar o mesmo Alberto Jardim “um exemplo supremo”[2] da vida democrática. Não apenas um exemplo, mas supremo. Isto é, AJJ, segundo Jaime Gama, é o máximo que almejar se pode em matéria de combatividade político-democrática. Claro que o adjectivo democrático faz toda a diferença.
Que AJJ seja um exemplo de combatividade, enfim… Supremo? Bem, pelo menos superlativo! Mas que o seja em democracia é de estranhar. E é de estranhar tanto mais, quanto a conduta de AJJ, que em tempos levara JG a apodá-lo de Bokassa, não se atenuou ao longo de dezasseis anos seguintes: a mesma veia insultuosa, o mesmo desrespeito pelos opositores, a mesma atitude chantagista. Então o que mudou?
Claro, a apreciação de Jaime Gama sobre João Jardim. E por quê? Aqui, na causa, reside, porventura, o mistério. Mas o mistério resolve-se, ao menos em parte, se se recorrer às próprias palavras de Gama em 1992. Se o avaliado não alterou a sua conduta, antes a veio refinando ao longo dos anos, numa completa impunidade, então teremos que concluir que foi o medo que tomou conta de Jaime Gama. O medo! Gama deixou-o bem claro na primeira avaliação: “não temos medo de nenhum Bokassa”.
Se agora o epíteto cai sem que houvesse da parte do visado qualquer alteração de conduta, é mais que justificado pensar-se que é o medo que tolhe Jaime Gama. A questão é agora a de saber o que provoca o medo em Jaime Gama. É mesmo de suspeitar que alguma ameaça chantagista se abateu sobre a cabeça deste tribuno da República. Mas se for isso (não vejo que outra causa possa ser responsável por esta conduta de JG, afastada a hipótese de demência), e dadas as funções que JG exerce, é também sobre a república que a chantagem se exerce. Pelo que é legítimo questionar o próprio JG sobre o seu silêncio, e se não terá obrigação moral e cívica de denunciar a chantagem, por mais que isso lhe custe. A isso o obrigaria a função de político que, supostamente, defende o bem público e não a causa individual.

Amadora, Março de 2009
Luís Ladeira

[1] - “… que se instala na Região Autónoma da Madeira o poder de um novo Bokassa. Nós não temos medo de nenhum Bokassa… nem do Bokassa madeirense” Jaime Gama na Assembleia da República, em 27/2/92.
[1] - “… um exemplo supremo na vida democrática do que é um político combativo, o Dr. Alberto João Jardim” Jaime Gama na abertura do Congresso da ANAFRE, no Funchal, em 28/3/08.




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1 comentário:

andrade da silva disse...

Luis

Muito belo texto, pelo mui excelente raciocinio silogistico. Obrigado e um grande abraço.
asilva