quarta-feira, 20 de maio de 2009

04 - A MEMÓRIA DOS HOMENS * Era o Tempo parado






E tanto por dizer ficou estrangulado
nas malhas do silêncio azul e da clausura!
Do risco de falar ao de ficar calado,
medrava em cada olhar o esgar duma censura.

Era o Tempo parado
dos altares pagãos
onde foi imolado,
por atávicas mãos,
o devir revelado.

Difusa, em cada esquina, a sombra desenhava,
na mancha que sangrava as pedras da calçada,
o desvario que, insone e plúmbeo, procurava
a brisa que trazia a nova perfumada.

Era o tempo parado
dos desígnios fatais
dum fantasma danado
a negar os sinais
do devir revelado.

Ah, meu amigo, e tu nos longes por haver,
ainda do silêncio infausto tão distante,
vivias, no mistério, a sedução de ser
um astro mais do céu, a lucilar, errante.

Era o tempo parado
da vergonha de nós,
no estertor resignado
e no medo sem voz
a render-se calado,


Chegaste, agora, são e salvo, e o tempo é teu!
Bem-vindo sejas! Vem, no tempo que em ti cresce,
ser mais um cravo-Abril, que o dia amanheceu!
E deixa-te orvalhar de auroras e floresce!



José-Augusto de Carvalho
19/5/2009
Viana * Évora * Portugal

2 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Que belo poema, musicalidade,e palavras
parabéns
Marília Gonçalves

José-Augusto de Carvalho disse...

Agradecido, Companheira!
J-A