quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

E A GUERRA QUE NUNCA MAIS ACABA…


Pela manhã ia editar um texto sobre realidades tristes que a sua actualidade requerem uma publicação quase na hora, mas perante o tão pungente depoimento da Marília adiei a sua publicação, e quero também acrescentar o meu depoimento vivo sobre a Bósnia e as marcas da Guerra civil.

Estive duas vezes na Bósnia, como psicólogo militar, nos fins de década de 90, e de facto o que vi é indescritível. A Sérvia completamente destruída, sem estado e sem autoridades nacionais, com os movimentos de todas as populações monitorizados pelos exércitos estrangeiros, com todo ou quase todo o seu aparelho produtivo destruído, com casas desventradas e quase todas com as paredes cravejadas de balas.

Num dia qualquer, como se o diabo se tivesse apoderado daquela gente, os vizinhos começaram a matar-se uns aos outros, só porque os outros eram muçulmanos, depois desta tragédia restou a completa e total miséria, e as pessoas passaram a atacar as lixeiras à procura de comer, mas, mesmo dentro desta tragédia, os Sérvios, os maus da fita, os condenados ao ostracismo pela justa e generosa comunidade Internacional, mantinham a sua posição digna, erecta e muitos, mesmo, debaixo desta tragédia continuavam a praticar ginástica, o que me fez e faz reflectir sobre a dignidade de ser povo.

Todavia estas pessoas, as crianças e os adolescentes que viveram estes trágicos quadros para além dos lutos dolorosos, da fome e da dores físicas, muitas ficaram permanentemente doentes com stresse pós traumático. Ficarão como a mulher da Bósnia que a Marília encontrou num hospital de Paris, e que nós também encontramos nos nossos com toda aquela tragédia irreversivelmente presente nos seus espíritos. Viverão em angústia permanente num sofrimento bem superior à morte, é um morrer lento em constante tortura espiritual e física, para o que a medicina tem uma resposta muito moderada, diminuindo os sintomas clínicos, o que até pode aumentar o sofrimento psicológico pelo aumento da vigília e da consciencialização psicológica e cognitiva dos acontecimentos. A guerra também destrói de um modo irreversível a pessoa humana, enquanto pessoa.

O mesmo quadro dramático se viveu no Kosovo, na Somália, no Sudão, no Afeganistão, no Paquistão e em Darfur em que o seu Bispo há, já, muito tempo lançou o apelo, para que acudissem a esta dor alucinante destas mulheres viúvas e destes filhos órfãos que gritam por todo o lado pelos seus maridos e pelos seus pais que viram ser barbaramente assassinados. Também este sofrimento marcará os palestinos que não forem exterminados por Israel.

Ontem assisti a uma palestra sobre a Palestina, na histórica secção do Partido Socialista da Almirante Reis, em que os jovens que a dirigem continuam na senda heróica dos que os antecederam, e os oradores muito conhecedores da situação no terreno, sendo um deles jornalista de grande experiência e contacto com a realidade, traçaram com toda a precisão o quadro da limpeza étnica que Israel desde há muito vem praticando, matando e expulsando os palestinos e substituindo-os por judeus, acto criminoso que pratica com a total cumplicidade dos EUA e da Europa.

Infelizmente apesar de hoje haver uma maior denúncia de todos estes casos, a insensibilidade é enorme e não recua. A propaganda, nomeadamente a de Israel, é tão forte que consegue em larga escala fazer das vitimas, os agressores e os culpados, mesmo perante os números que derrogam esta mentira.

A cumplicidade é de tal ordem que o número de mortos que são significativamente mais de mulheres e crianças, prova cabal da limpeza étnica em curso, associada ao abandono induzido de palestinos dos seus territórios, pouco faz mexer a comunidade internacional e os países, nomeadamente, o governo português, para denunciarem e combaterem este crime de genocídio e contra a humanidade, permitindo, pelo contrário, que a propaganda de Israel leve pessoas generosas a pactuarem com este bárbaro crime.

Uma vez mais se demonstra como a propaganda pode camuflar a realidade, neste caso com a gravidade de que a alienação é de tal ordem que provocou uma cegueira em muitas, mesmo muitas, pessoas que se recusam a aceitar que os crimes de Israel são da mesma natureza e quantidade que os da Alemanha nazi.

A propaganda Israelita fez crer que quem ameaça são os palestinos, e com esta mentira Israel ficou de mãos livre par expulsar milhões de palestinos das suas terras, matando outros milhares, quando garante a todos os judeus um lugar nos territórios palestinos que vai ocupando, e sobre pretextos falsos de segurança ocupa território palestino, como os montes Golan para defender um recurso estratégico, a água.

Só poderá haver paz no mundo e o fim do terrorismo Internacional, quando a comunidade internacional resolver estas questões que no caso do Médio Oriente serão dois países independentes e seguros Israel e Palestina.

andrade da silva

3 comentários:

Marília Gonçalves disse...

Je suis humble artisan d’une tâche inféconde
mais devant les dangers qui menacent le monde
je rougirais
d’être de ceux qui n’ont rien dit.
Eugène Bizot

Marília Gonçalves disse...

VOLTO Companheiro
ainda para comentar o que escreveu sobre a guerra, essa fera escondida nos mais vis actos do ser - humano
Vamos ouvir o eterno sempre foi assim e sempre há-de ser?!
Pois não há-de não senhor, coisíssima nenhuma! Porque um dia Homens e Mulheres de boa-vontade, contrariando egoísmos e mesquinhez se vão insurgir a travar o caminho
a tudo o que insuportável, acontece, como o que temos visto agora, tanto corpo de criança, que nasceu para viver, roubado à vida e ao futuro que sem a maldade humana poderia ser ridente.
Pague o preço que pagar, nunca me calarei.
Porque olho para trás, para a nossa humana história
e vejo-nos pouco mais que macacos, a descer das árvores, para nun lento e longo processo de evolução, até sermos o que somos hoje!
E se tais mutações foram possíveis
se de obscuras mentes, ignorantes de toda a Ciência, Arte, Conhecimento, evoluímos até sabermos o que se vai sabendo no presente...(o Futuro vem a caminho, começa agora mesmo, neste instante)
Se tanto se transformo em nós, se tanto avançou, progrediu, evoluiu,, tudo o mais minhas gentes, tudo o que não evoluiu ainda vai igualmente evoluir.
O caminho percorrido, responde pelo Futuro, e eu, eu acredito no Ser-Humano , nas suas potencialidades e no continuo desenvolvimento das mesmas.
PENSEM E AJAM!
Para que Amanhã, esse tal que começa daqui a um pedacinho, seja o que desejamos
abraço
Marília Gonçalves

andrade da silva disse...

Cara Marilia

Penso que nem sempre terá de ser assim, mas há um longo caminho a percorrer e poucos, muito poucos, se fazemm à estrada, porque não venceram o seu egoísmo e sua interior perversidade.

Aqui lá vamos dando um contributo para isto mude , mas estamos num cubo metálico fechado apesar dos pedidos as pessoas querem ouvir outras coisas ou escândalos ou tretas, enfim, outras propostas que impliquem pensamento critico, liberdade de pensamento que derrubem cangas são atitudes votadas ao ostracismo, ao banimento social e se possível à tortura .

Vivemos numa socidade tutelada por capatazes totalitários, os cidadãos não são livres.

Logo que tenha tempo vou falar disto.
abraço
asilva