sexta-feira, 7 de novembro de 2008

05 - POEMÁRIO * O rimance lusíada




--- Para Jerónimo Sardinha ---





Sopra o vento de feição.
É o tempo da largada.
É um lençol o mar chão.
A praia está apinhada.

Ao sabor da viração,
dança a barca engalanada.
Tanto povo em ovação
à gesta determinada!

Entre tanta animação,
que é de azáfama a jornada,
ultima a tripulação
a manobra da largada.

Já desliza a barca ousada.
Mas o povo em ovação
torna mais determinada
a aventura da nação.

Içadas todas as velas,
ruma a barca ao mar profundo!
Por mais rijas as procelas,
não irá o sonho ao fundo!

Num adeus, chapéus e lenços,
entre lágrimas, se agitam,
enquanto os sonhos suspensos
na barca ousada acreditam.

E a barca lá vai, num grito
de ansiedade e de evasão,
enfrentar, sem medo, o mito
do temido Cabo Não!

E depois encontra as ilhas,
que chamam de afortunadas,
de gentes e maravilhas
iguais às aqui deixadas.

E segue, num frenesim!
E redondo encontra o mundo!
E é, desde princípio a fim,
sonho que não vai ao fundo.




José-Augusto de Carvalho

7 de Novembro de 2008.
Viana*Évora*Portugal

Do livro em preparação: Do mar e de nós

3 comentários:

andrade da silva disse...

Caro José Augusto

O poema é para o Jerónimo , mas a sua beleza já nem sua é ,é dos leitores, e, assim, bem digo tão belo poema que fala do sonho, sonhado e nunca concretizado, mas também sem ir alguma vez ao fundo e desse modo afundar-se, morrer.

Penso que um desses sonhos será o do POVO um dia em LIBERDADE e No AMOR estebelecer uma forma de governo onde a alegria substitua a maldicência, a fraternidade a competição mortal, o amor o ódio, etc..

Só com o POVO que AMA, quer e sabe Amar se pode tornar real amanhã os sonhos destes invernos.
abraço
asilva

José-Augusto de Carvalho disse...

Boa noite, meu prezado Andrade da Silva!
Antes de tudo o mais, muito grato por ter valorizado este meu texto com o seu generoso comentário.
Vou confidenciar-lhe uma frustração minha. Desde menino, sonhei ser marinheiro. A Vida não quis. O Jerónimo foi mais feliz do que eu e foi marinheiro. Talvez haja aqui uma transferência ao ter tanto gosto em lhe oferecer estes poemas do mar e de nós.
Evidentemente que o meu texto, a partir do momento em que o publiquei, será de todos os que o reclamarem. E eu ficarei feliz com isso.
Grande e fraterno abraço.
José-Augusto

Jerónimo Sardinha disse...

Ao Zé-Augusto,

Para quem não tenho palavras que exprimam o sentimento.

Sim, essa barca é verdadeiramente o sonho, sonhado e nunca acabado.
Mas também não naufragado.
Adiado. Adiado mil vez. E sofrido. Muitas mais.

Obrigado Caro Amigo.

São momentos como este, que iluminaram a noite escura e agora dão calor e alento a este inverno continuado.
Será findo. Um dia. E a praia resplandecerá, de sol, calor e FRATERNIDADE.
Aí, cumprir-se-à a LIBERDADE e a costa estará vencida.

Até lá, a minha gratidão e o meu Companheirismo.

Ao Andrade da Silva,

Tens razão.
Não é meu... É NOSSO.
É do POVO, que um dia também o saberá merecer.
Nesse dia, se cá estivermos, teremos o gozo compensatório das agruras e amarguras de hoje.

Grande Abraço aos dois,
Jerónimo Sardinha